Por um momento, quando os smartwatches ficaram mais poderosos, com funções ligadas a esportes e à saúde e conexão direta com os celulares, alguns analistas de mercado disseram que os relógios analógicos estavam com os dias contados. Mas assim como aconteceu com os discos de vinil, que voltaram a ganhar popularidade e hoje vendem mais do que CDs, os medidores de tempo convencionais, com ponteiros e mecanismos complexos, vivem um grande momento. As vendas vêm subindo de forma consistente nos últimos anos, graças ao renovado interesse dos millennials e da Geração Z.
No mercado da relojoaria, há diversos segmentos. No topo da pirâmide estão os modelos de luxo, que custam caro não apenas pelo aspecto artesanal de sua produção e da quantidade de complicações (como são chamadas as funções, desde medir as horas até indicar as fases da lua), mas também pelo poder da marca. No outro extremo, na base, estão os modelos mais simples, equipados com calibres de quartzo, simples e eficazes, que geralmente dependem de baterias. Entre eles estão os automáticos, mais complexos.
Para quem quer entrar no mundo da relojoaria mais “séria”, digamos, sem gastar uma pequena fortuna, há poucas opções. É nesse segmento que a japonesa Orient tem se destacado – e agora passa por uma transformação para se consolidar como porta de entrada para a alta relojoaria.
A novidade está no posicionamento da marca e na oferta de modelos. Os relógios com quartzo a bateria serão descontinuados gradualmente e serão oferecidas apenas opções movidas a energia solar (com a tecnologia solartech) e automáticos. “Queremos ter apenas opções autossuficientes em energia”, afirma Rodrigo Anzanello, diretor de produtos da marca no Brasil. É um movimento que vem sendo feito por outras marcas de luxo, como a Tag Heuer e a Tiffany & Co.

O portfólio também passou por uma reformulação. A linha 3 Estrelas de automáticos de entrada terá opções Heritage,que remetem a clássicos da marca lançados principalmente nos anos 1970 e 1980, com tamanhos tradicionais e caixas com cores mais vibrantes), a Elegance, de visual mais funcional, e a Sport, com relógios do tipo diver (de mergulho), pilot (inspirados na aviação) e field (com pegada militar e utilitária). Já os relógios com energia solar serão vendidos com opções nas mesmas categorias da Sport, além de cronógrafos. Todos têm pulseiras com elos sólidos e vidro de safira, elementos que ampliam a durabilidade.
A maioria desses modelos é desenvolvida para o mercado nacional, embora alguns sejam vendidos em outros países. O Brasil é o único país com fábrica da Orient fora do Japão e com autonomia para criar relógios próprios com a marca japonesa. Esses modelos serão vendidos na faixa entre R$ 1.600 e R$ 3 mil. Acima deles, há relógios internacionais, como os famosos Bambino, de visual mais formal, e a linha de mergulho Mako, vendidos entre R$ 3.500 e R$ 5 mil. Um degrau acima ficam os relógios da Orient Star, que chegam a R$ 20 mil.
No grupo, que pertence à gigante de tecnologia Epson, há várias outras marcas, como a Lince e a X-Watch, de modelos mais simples, vendidos em grandes lojas de roupas, Armani Exchange, Diesel e Empori Armani, de apelo fashionista, e as divisões de relojoaria, como a própria Orient, além de Orient Star, Seiko e Grand Seiko, no topo.
O tíquete inicial subiu um pouco, em relação aos modelos comercializados anteriormente pela marca. Mas as primeiras coleções já tiveram lotes esgotados em revendedores. Hoje, a Orient não vende relógios em seu próprio site, mas apenas por meio de parceiros. “Redirecionamos para pontos de venda porque acreditamos na experiência de ver o produto ao vivo”, diz o executivo.
Segundo Anzanello, esse fenômeno se deve principalmente por conta do interesse do público mais jovem, que busca nos relógios uma maneira de se diferenciar. “São ‘statements’ de estilo de vida”, diz. “É como o mercado de tênis, que relança modelos clássicos. Esses produtos carregam um apelo emocional muito grande”, completa. As redes sociais também ajudaram a impulsionar a demanda. Há canais e personalidades que se dedicam apenas a conteúdos relacionados à relojoaria, o que amplia o alcance do tema.
Nesse cenário, Anzanello afirma que há muito espaço para crescimento. Fora de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, por exemplo, os entusiastas precisam buscar lojas online. Mas à medida que o mercado amadurece, aumenta a demanda por revendedores qualificados. “Nos últimos 27 anos, só não crescemos em duas ocasiões. Em 2006, quando um grande revendedor encerrou suas atividades, e na Covid”, diz Anzanello. Sem abrir os números, ele afirma que em 2025 a projeção da empresa é crescer 30% em relação ao ano passado.