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Paloma Amado: dores e delícias de ser filha de Jorge Amado e Zélia Gattai

Arrasta-se há dezessete anos um imbróglio numa das famílias mais influentes da literatura nacional: a de Jorge Amado e Zélia Gattai, falecidos em 2001 e 2008, respectivamente. Quem cuida hoje do acervo do casal de escritores é uma das filhas, Paloma Amado, 74 anos, à frente da fundação que leva o nome do pai, no centro histórico de Salvador (BA). Dia sim dia não, Paloma, também escritora, precisa lidar com as três filhas de seu meio-irmão mais velho, Luis, já falecido, que surgem no local, segundo ela relata a VEJA, para cobrar faturamento de obras literárias. O processo das netas de Aldo Veiga, primeiro marido de Zélia, segue na Justiça, longe de um final feliz. “Isso me tira do sério, me faz chorar, tenho pesadelos”, detalha ela ao programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify). Assista.

LEGADO DOS ESCRITORES. “O legado deles é esse: arte, cultura, generosidade, e mais que isso, um legado de humanidade. As pessoas, quando chegam aqui (na Fundação), respiram tudo isso, entendem o que é e se fortalecem. Você falou que eles estão vivos e estão cada dia mais vivos. Há poucos dias fez 24 anos da partida física de papai, mas pode ter certeza de que a presença dele aqui chega a ser palpável. Porque ele escreveu muito, contou muitas verdades sobre essa terra, sobre essa gente, sobre o pensamento, sobre as ideias dos homens”.

CASAMENTO E LITERATURA. “Mamãe e papai tiveram 50 anos do casamento mais feliz do mundo. De respeito, de união. Diziam para o papai: ‘atrás de um grande homem vem sempre uma grande mulher’. E ele respondia: ‘a Zélia não, ela vem de mão dada ao meu lado. Ela é minha mulher. Ela vale tanto quanto eu e é melhor que eu em muitas coisas’”.

JORGE COMUNISTA. “Esse grupo de extrema direita, que está querendo tomar conta do Brasil, usa de dizer isso do meu pai de uma forma a atrapalhar as pessoas. E quero então aproveitar essa oportunidade para dizer que meu pai nunca deixou o Partido Comunista. Meu pai era membro do Partido Comunista e, quando morreu, em 2001, continuou sendo do PCBão. A minha mãe nunca foi do Partido Comunista, mas trabalhou muito pelo partido, foi assim que ela conheceu o meu pai. O que aconteceu com o pai e que eles aproveitam para fazer essa intriga péssima? O meu pai, como membro do Partido Comunista, esteve no quinto congresso quando Khrushchev (Nikita Serguêievitch Khrushchov, soviético que liderou a União Soviética durante parte da Guerra Fria como Secretário-Geral do Partido Comunista, de 1953 a 1964; e como presidente do Conselho de Ministros, de 1958 a 1964) denunciou os crimes de Stálin. Ele voltou para o Brasil e, dentro do Partido Comunista, contou o que ouviu e foi muito contestado por isso”.

BRIGA DA FAMÍLIA. “Quis entrar em um acordo e elas (suas três sobrinhas) pediram 9 milhões de reais para cada uma. Somando dá 27 milhões. Meu pai nunca viu esse dinheiro. É uma discussão sobre capitalismo e socialismo. São meninas extremamente capitalistas que querem vingar o pai que sofreu alienação parental e odiava minha mãe. E gente que sempre foi generosa, aberta. Graças a Deus, até hoje esse processo corre, me tira do sério, me faz chorar, ter pesadelo, mas continuo em frente. Porque se um dia elas conseguirem entrar dentro do universo Jorge Amado… De Zélia Gattai elas têm o direito. Luis Carlos era filho da mamãe; e mamãe morreu depois dele. Aliás, mamãe morreu por causa da morte dele”.

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BILHETERIA. 16:16 “Elas vêm aqui e ficam na porta da Fundação, querendo saber quanto foi o borderô do dia. Querem uma parte disso. Elas não se dão conta que não recebemos nada do que entra na Fundação”. 16:30

ELEITORA FIEL. Na eleição, a última vez que o Lula foi eleito antes da Dilma, mamãe disse para o João, meu irmão: ‘aquele lugar que eu votava não presta, porque não vou conseguir subir as escadas de cadeiras de rodas’. E ele disse: ‘mãe, você não precisa votar’. Ela: ‘Não preciso votar? Todos têm que votar. É claro que vou votar’. Ela tinha 90 anos, foi votar com cadeira de rodas e máquina de oxigênio”.

A MELHOR ‘GABRIELA’. Não posso falar, porque sou ‘irmã’ de Sônia Braga. Ganhei essa irmã quando ela veio fazer Gabriela. E não vamos ser injustos com Juliana Paes. Ela fez uma boa Gabriela, fez melhor ainda a Dona Flor. 21:12 (…) Na última versão de Gabriela, na da Juliana Paes, um dos coronéis de cacau era sabidamente gay. Pode atender muito um público que quer a história do LGBTQIA+, mas sai inteiramente do contexto do livro. Me incomodou. Não vi, mas soube. Achei uma tristeza”.

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Captação de imagens: Libário Nogueira / Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.

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