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Tarifaço: todos estão machucados

O aumento de tarifas que Donald Trump impôs aos produtos brasileiros virou um problema político que vai muito além da economia. A conta chegou tanto para o presidente Lula quanto para a família Bolsonaro — e os números mostram o tamanho do estrago.

Uma pesquisa do Datafolha, feita entre 11 e 12 de agosto e divulgada hoje, revelou algo que incomoda o Planalto: 35% dos brasileiros culpam Lula pelas sobretaxas americanas. Jair Bolsonaro aparece em segundo lugar (22%), seguido por Eduardo Bolsonaro (17%). Somados, pai e filho chegam a 39% — quase empatados com o presidente atual.

Para Lula, que está em seu terceiro mandato, a situação é delicada. Como explicar para o povo brasileiro que você não tem culpa por algo que acontece lá fora? O problema é que, em política, quando você não consegue contar sua versão da história de forma convincente, as pessoas tendem a achar que você fez algo errado.

O silêncio do governo federal nessa questão está custando caro. Enquanto a oposição martela que Lula “queimou o filme” do Brasil com Trump, o Planalto parece sem resposta à altura. Quem não se explica, se complica.

A família Bolsonaro tem outro tipo de problema. Eduardo Bolsonaro está intensamente fazendo lobby nos Estados Unidos a favor das sanções contra o Brasil — contra o próprio país que ele representa como deputado. Para muita gente, isso passou dos limites do aceitável. Para outros, é um crime contra a pátria.

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Empresários brasileiros que dependem das exportações para os EUA estão furiosos com essa história. É uma coisa criticar o governo, outra bem diferente é trabalhar contra os interesses do país. Essa mancha pode durar muito tempo na biografia política da família.

No final das contas, essa crise criou um cenário em que não há vencedores claros na política brasileira. Lula leva a culpa por algo que não controla totalmente, enquanto os Bolsonaro carregam a pecha de terem trabalhado contra o Brasil.

A diferença é que o problema de Lula pode ser mais imediato — é aquela impressão ruim que fica no dia a dia. Já o dos Bolsonaro pode ser mais duradouro — é difícil esquecer quando alguém trabalha contra os interesses do próprio país.

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Lula vai ter que buscar uma diplomacia mais pragmática. Putin e Xi Jinping, mesmo com todas as diferenças que têm com Trump, mantêm canais de diálogo com ele. Por quê? Porque sabem que, no final, é melhor conversar do que ficar isolado. E o que interessa para seus países são os interesses nacionais.

O presidente brasileiro precisa mostrar que consegue defender os interesses do país sem transformar tudo numa questão ideológica. Senão, a narrativa de que o Brasil está isolado no cenário internacional será predominante.

Crises internacionais sempre mexem com a política brasileira. Foi assim com a crise da dívida externa nos anos 1980, com as brigas sobre o etanol nos anos 2000 e agora com esse “tarifaço” de Trump. Mas, anteriormente, existia certo pragmatismo que funcionava.

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A diferença é que, desta vez, tanto o presidente quanto o principal líder da oposição saíram arranhados ao mesmo tempo. É uma situação inédita que pode redesenhar o mapa político brasileiro.

Lula precisa urgentemente mudar a narrativa sobre essa crise. Ele não pode aceitar, sem reação pragmática, que a opinião pública ache que ele é o culpado por uma decisão tomada em Washington.

Já os Bolsonaro vão ter que explicar como um deputado brasileiro pode fazer lobby contra o próprio país. E essa explicação não vai ser fácil. Afinal, os brasileiros — mesmo aqueles que não concordam com a cadência e o rigor excessivo de Alexandre de Moraes — não aceitam ver o país ser chantageado.

Dependendo de como essa história se desenrolar, o “tarifaço” de Trump pode se tornar um marco na política brasileira — daqueles episódios que a gente irá lembrar durante muito tempo quando estudarmos os rumos do país.

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