Mais de 100 manifestantes se reuniram no coração de Washington, D.C., na quinta-feira 14 para protestar contra a mobilização da Guarda Nacional e a federalização do departamento de polícia local pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O protesto ocorreu depois de forças federais realizarem operações para desmontar acampamentos de moradores de rua na capital americana e pararem dezenas de motoristas em uma blitz.
Segundo a emissora americana NBC News, ao menos uma mulher teria sido presa no ato, que teve gritos como “saiam de nossas suas”. Alguns manifestantes começaram a alertar motoristas para que evitassem a área da blitz que, com cerca de 20 policiais (alguns do Departamento de Segurança Interna), pararam carros por infrações como lanternas traseiras quebradas e falta de cinto de segurança, de acordo com o jornal The Washington Post.
Mais cedo na quinta-feira, a polícia municipal começou a remover alguns sem-teto das ruas. Autoridades em Washington, D.C., e defensores dos desabrigados começaram a alertar pessoas que moram em acampamentos urbanos a procurarem abrigos antes do início das operações federais.
“Não temos leitos suficientes em abrigos para todos nas ruas”, disse Amber Harding, diretora executiva da Clínica Jurídica de Washington para os Sem-teto. “Este é um momento caótico e assustador para todos nós em D.C., mas principalmente para as pessoas sem-teto.”
Trump voltou a alegar na quinta-feira que a criminalidade na capital está “no pior momento da história”, motivo pelo qual justificou a tomada da segurança da cidade pelo governo federal. Sua fala não condiz com os dados. Segundo o Departamento de Polícia Metropolitana de Washington, a criminalidade geral do distrito federal diminuiu 7% desde o ano passado, enquanto crimes violentos despencaram 26% e crimes contra a propriedade reduziram em 5%. Mas o presidente também acusou, sem fundamento, as autoridades policiais de D.C. de fornecerem “estatísticas falsas sobre crimes” e disse que os dados “estão sob investigação”.
Quase 800 soldados da Guarda Nacional começaram a chegar à cidade esta semana. O Departamento de Defesa informou na quinta-feira que cerca de 200 militares por vez estariam nas ruas para apoiar a polícia federal e local.
A Casa Branca informou que autoridades efetuaram mais de 100 prisões desde que Trump anunciou a tomada de poder. O Departamento de Polícia Metropolitana confirmou ter efetuado 217 prisões desde segunda-feira. O chefe da polícia local também emitiu uma ordem executiva permitindo que seus agentes notifiquem o ICE, a polícia de imigração americana, sobre estrangeiros sem documentos que forem encontrados durante suas blitz (anteriormente, o departamento não podia fazer denúncias desse tipo se os suspeitos não fossem acusados de um crime).
Na noite de quinta-feira, a procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, nomeou Terry Cole – chefe da DEA, a agência antidrogas do país – como “comissário de polícia de emergência” de Washington, uma medida significativa que aumenta o controle nacional sobre a cidade. Ela disse que o Departamento de Polícia Metropolitana “precisa receber a aprovação do comissário Cole” antes de emitir qualquer ordem, deixando Pamela Smith, a atual chefe de polícia da cidade, numa espécie de limbo.
A Lei de Autonomia de Washington, de 1973, permite que o presidente assuma o controle da força policial da cidade por 30 dias para “fins federais” que o presidente “considere necessários e apropriados”. Trump sugeriu que buscará estender o prazo, mas precisaria da autorização do Congresso para isso — algo improvável. Chuck Schumer, líder democrata no Senado, disse na quarta-feira que seu partido não apoiaria a iniciativa “de jeito nenhum”. “Vamos lutar com ele com unhas e dentes”, garantiu.
Caso o legislativo não conceda a extensão, Trump sugeriu que poderia declarar estado de emergência para prolongar unilateralmente a tomada de poder. “Se for uma emergência nacional, podemos fazer isso sem o Congresso”, disse Trump na quarta-feira.