counter Sabres de luz e energização: os bastidores da saga espírita Nosso Lar 3 – Forsething

Sabres de luz e energização: os bastidores da saga espírita Nosso Lar 3

Na doutrina do espiritismo, fundada pelo francês Allan Kardec (1804-1869), os humanos têm dois destinos básicos após a morte: viver junto aos Espíritos de Luz, numa dimensão celestial pura e livre da maldade, ou pelejar com as almas não evoluídas nas trevas do Umbral. Por um breve período, esses dois ambientes se materializaram num estúdio em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ali, nas últimas semanas, centenas de pessoas se reuniram diariamente para gravar as cenas de Nosso Lar 3: Vida Eterna, próximo título da popular franquia inspirada na obra de Chico Xavier.

Em um domingo de clima ameno, VEJA acompanhou as gravações de uma batalha intensa: comandados por Domênico (Fabio Assunção), espíritos umbralinos revoltosos tentam invadir a casa espiritual onde habitam os guias liderados por Zenóbia (Carol Castro) e almas que empunham algo parecido com um sabre de luz. Para reproduzir o cenário cinzento do Umbral, o chão foi coberto de terra batida e pedras. Ao fundo, um telão de LED de 200 metros quadrados projetava um cenário árido desenhado digitalmente — novidade tecnológica que ilustra a ambição da sequência em tentar melhorar os efeitos de outro mundo vistos nas telas nos filmes anteriores. “Estamos repetindo, de certa forma, o que foi o primeiro Nosso Lar. O segundo sofreu um pouco em termos orçamentários, mas voltamos com força total e um valor enorme de produção”, explicou o diretor Wagner de Assis, sem revelar valores exatos.

Lançado em 2010, Nosso Lar teve o custo estimado em 20 milhões de reais e vendeu mais de 4 milhões de ingressos, tornando-se um fenômeno de bilheteria. Catorze anos depois, a sequência chegou às telas com um terço do orçamento do antecessor e também menor público: acabou sendo visto por 1,6 milhão de pessoas, tornando-se o quarto título nacional mais popular do ano. Agora, o longa previsto para 2027 quer dar fôlego para que a franquia continue. Afinal, a série A Vida no Mundo Espiritual, atribuída a Chico e ao espírito André Luiz, fornece material farto: é composta por treze livros. “A gente planeja fazer o 4 e o 5, quem sabe o 6”, sonha o diretor, entusiasmado.

LUZ E TREVAS - Carol Castro (à esq.) e Fabio Assunção: atores vivem um casal separado que se reencontra em lados opostos na vida pós-morte
LUZ E TREVAS - Carol Castro (à esq.) e Fabio Assunção: atores vivem um casal separado que se reencontra em lados opostos na vida pós-morteIque Esteves/Divulgacão; Ique Esteves/Divulgação

Inspirado no quarto volume da saga — o terceiro foi “pulado” por ser parecido com o segundo —, Obreiros da Vida Eterna acompanha Zenóbia na tentativa de salvar a alma de Domênico, sua paixão da vida passada. Impedido de ficar com a amada, ele virou padre e foi lançado no Umbral após passar a vida abusando de fiéis. Intérprete do personagem, Fabio Assunção teve contato com o espiritismo em duas ocasiões: na adolescência, quando o pai buscou Chico Xavier para pedir uma psicografia do avô, e já adulto, quando ele mesmo conheceu o médium. “Minha relação com a espiritualidade sempre existiu. Com a doutrina espírita é que eu tive momentos de maior ou menor aproximação”, explica o ator.

Continua após a publicidade

A participação no filme requer certos sacrifícios e provoca reflexões nas duas estrelas familiares na tela da Globo. A pesada capa que compõe o figurino de Assunção o ajuda a entrar no personagem. “Eu começo a suar e me sinto um condenado”, brinca ele. Líder dos espíritos evoluídos, Carol Castro já trabalhou com o diretor Assis em Ninguém É de Ninguém (2021), baseado no livro homônimo de Zibia Gasparetto. “É meu segundo filme com essa temática, mas eu prefiro falar espiritualista do que espírita, porque a ideia é que seja um filme que converse com todos”, explica a atriz.

A despeito da forma como se classifique a franquia, há relatos de experiências peculiares no set. Segundo o diretor, não é raro que aparelhos pifem no meio das filmagens ou que fatos sobrenaturais aconteçam. “Filmamos uma cena em um pântano trevoso. No dia seguinte, o estúdio tinha sido limpo fisicamente, mas a energia era tão pesada que uma pessoa passou mal e outra desmaiou”, conta. Assis revela que a equipe costuma se reunir e fazer uma mentalização antes das gravações para atrair boas energias. Para os atores, esse ritual é natural. “A gente faz isso no teatro também, mas sem palavras bonitas. Deixa uma frequência mais tranquila”, diz Assunção, relembrando o dia em que Assis fez uma oração e colocou uma música que fez todos ficarem em silêncio e de olhos fechados mesmo após o rito. “Pedimos proteção para a gente, para os entes queridos que estão em casa — e também pedimos licença para aqueles que já se foram e estão nos abençoando”, completa Carol. Nos bastidores do Além, as almas dominam a cena.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

Publicidade

About admin