Os cães que vivem nos arredores da antiga usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, desenvolveram mutações que podem protegê-los contra o câncer. Após quase quatro décadas expostos a altos níveis de radiação, esses animais apresentam alterações no DNA que intrigam cientistas e podem abrir caminho para novas pesquisas sobre resistência a doenças em humanos.
Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de mais de 300 cães que vivem nas zonas mais contaminadas de Chernobyl e compararam seus genomas com os de cães de outras regiões. Eles identificaram centenas de mutações que não aparecem em populações caninas comuns. Parte dessas alterações está ligada a processos celulares de reparo do DNA e de supressão tumoral — mecanismos que podem ajudar a prevenir o desenvolvimento de câncer, mesmo em ambientes com alto nível de radiação.
A radiação ionizante, presente no local desde o acidente nuclear de 1986, é conhecida por causar danos severos ao DNA e aumentar o risco de câncer. No entanto, a presença dessas mutações sugere que os cães de Chernobyl passaram por uma seleção natural rápida, na qual indivíduos com maior capacidade de reparar danos genéticos sobreviveram e transmitiram essas características para as gerações seguintes.
O que essa descoberta pode significar para a medicina?
Embora seja cedo para afirmar que esses cães sejam completamente imunes ao câncer, a pesquisa, publicada em 2023 na revista Science Advances, fornece pistas importantes para entender como organismos vivos podem se adaptar a condições extremas. Os genes identificados podem ajudar a desenvolver novos tratamentos e estratégias de prevenção para humanos expostos à radiação, como trabalhadores de usinas nucleares ou pacientes que passam por radioterapia.
Os cientistas planejam continuar monitorando a população canina de Chernobyl para verificar se essas mutações se mantêm nas próximas gerações e se realmente conferem uma proteção efetiva contra o câncer.