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O que esperar da cúpula entre Trump e Putin nesta sexta-feira

A cúpula entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, nesta sexta-feira, 15, está envolta numa névoa difícil de dissipar. Não há sinais concretos de que a reunião no Alasca levará ao fim da guerra na Ucrânia, que avança para o seu quarto ano. Mas Putin parece ter cartas na manga para conquistar o republicano para o lado da Rússia: incentivos financeiros, a linguagem preferida de Trump em negociações. Ao mesmo tempo, ele tenta ganhar tempo com o americano, que ameaçou impor sanções a Moscou caso não avance em direção à paz, enquanto reitera que não abrirá mão de suas exigências em favor de um cessar-fogo total.

“Espera-se uma troca de opiniões sobre o desenvolvimento da cooperação bilateral, inclusive nas esferas comercial e econômica”, adiantou assessor do presidente russo, Yuri Ushakov, nesta quinta-feira, 14. “Essa cooperação tem um potencial enorme e, infelizmente, inexplorado até o momento.”

Numa sinalização evidente aos possíveis benefícios comerciais, Putin chegará ao Alasca acompanhado de assessores econômicos, incluindo o ministro das Finanças, Anton Siluanov, responsável por liderar a resposta russa às sanções ocidentais. A Moscou, no entanto, tem condições bem definidas para uma trégua prolongada no conflito: a Ucrânia deve abandonar as pretensões de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental; deve concordar em ceder territórios à Rússia, como Luhansk e Donetsk, anexadas ilegalmente por Putin em 2022; e deve se desmilitarizar. Kiev, que controla grande parte de Donetsk, rejeita todas as exigências.

“Putin vê isso como uma chance de mostrar a Trump que está mais do que pronto para concordar com a paz se as condições forem adequadas. Ele quer retratar (o presidente Volodymyr) Zelensky como aquele que está prolongando a guerra”, disse um ex-alto funcionário do Kremlin, sob condição de anonimato, ao jornal britânico The Guardian. “Putin sabe que Trump vê o mundo através de uma lente empresarial e apresentará uma paz em seus termos como porta de entrada para oportunidades lucrativas.”

‘Troca de territórios’

Nas últimas semanas, Trump alertou Zelensky de que as tratativas podem envolver “alguma troca de territórios”, o que representa uma vitória para Putin. Além de Donetsk e Luhansk, o presidente russo anexou Kherson e Zaporizhzhia há quase três anos. Quase uma década antes, ele já havia anexado a Crimeia, uma península ucraniana. 

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Mas o ex-funcionário do Kremlin argumentou ao The Guardian que o republicano enxerga a guerra pelas lentes erradas: “Trump parece estar sob a ilusão de que Putin só se importa com a terra”, argumentando que o principal objetivo do líder russo, na verdade, é golpear a independência da Ucrânia e abordar as “causas profundas” que teriam levado Moscou a invadir Kiev em fevereiro de 2022, como a sinalização ucraniana que planejava entrar para a Otan.

“Esta não é uma cúpula final onde uma paz duradoura possa ser alcançada”, afirmou um membro do establishment da política externa russa que assessora Putin ao veículo. “Não foi preparada base suficiente para isso. Mas oferece uma rara chance de conquistar Trump para o lado da Rússia.”

Timing a favor da Rússia

De todo modo, o timing do encontro favorece Putin. Nos últimos dias, forças russas avançaram leste da Ucrânia, nos arredores da cidade de mineração de carvão de Dobropillia, mostrou o mapa interativo não governamental DeepStateMap, que acompanha as linhas de frente do confronto. O mapa também mostra que os soldados russos conseguiram infiltrar pelo menos 10 km para o norte em duas frentes nos últimos dias, parte do cerco à região de Donetsk. 

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As tropas de Putin também ganharam terreno perto de três vilarejos em uma parte da linha de frente associada às cidades ucranianas de Kostyantynivka e Pokrovsk — a primeira, assim como Sloviansk, Kramatorsk, Druzhkivka, é considerada uma “cidade-fortaleza” por autoridades russas e são essenciais para a tomada de Donetsk. Moscou usa da sua superioridade numérica — Kiev conta com um número reduzido de soldados, esgotados pelos três anos de conflito — para infiltrar as linhas de defesa em pequenos grupos.

“Considerando que a situação está se desenvolvendo a favor da Rússia, deve haver grandes incentivos para que Putin cesse os combates”, disse um acadêmico russo próximo ao Ministério das Relações Exteriores do país ao jornal britânico. “Putin acredita que, se a diplomacia falhar, ele pode simplesmente avançar militarmente.”

Apesar dos indícios de que a cúpula será improdutiva, a imprevisibilidade de Trump é um fator que não pode ser descartado. Ao retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, ele chacoalhou o tabuleiro bélico ao optar pela aproximação a Putin em detrimento dos laços com Zelensky, a quem destinou críticas ferozes. No entanto, as relações entre o americano e o russo têm sido marcadas por vai-e-vens, mudando bruscamente, num estalar de dedos, entre declarações de admiração a insultos — em maio, o republicano chamou o Putin de “louco”. A volatilidade é marca do governo Trump, e Putin, tão imprevisível quanto, parece estar cada vez mais perto de desvendar as regras do jogo. 

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