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Em decisão inusitada, Conpresp tomba bens de bar paulistano (e não prédio)

Em 1994, em um bairro nobre da capital paulista, inaugurava um bar cujos sócios tinham como propósito transformá-lo em uma espécie de praça pública, para ser um ponto de encontro de intelectuais, artistas e frequentadores engajados na cena cultural da cidade. Na esquina da Rua Doutor Melo Alves, nos Jardins, o estabelecimento abriu as portas com um balcão de 25 metros de madeira, que diferente dos tradicionais, possibilita ser ocupado dos dois lados dele. Nascia assim o Bar Balcão, local amplo, com pé direito duplo, e paredes forradas de gravuras e quadros. Para a surpresa dos sócios, este mês, o mobiliário mais importante da casa, o balcão, e dois quadros foram tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp).

A decisão causou estranheza dos sócios. “Foi tombado um patrimônio particular e não o local onde as pessoas se reúnem”, explica Francisco Millan, sócio fundador da casa. Trata-se de uma condição ainda provisória, que só será definitiva no fim do processo recentemente instaurado a partir da decisão do Conpresp. A notícia não é ruim. Dá ao local um atrativo a mais, que pode ajudar no marketing e  na renovação do público –o que já vinha acontecendo espontaneamente –, mas mas para os sócios e frequentadores mais antigos, o tombamento deixa um gosto de frustração.

Há pouco mais de dois anos, o Balcão ficou sob ameaça de fechar as portas. A proprietária do imóvel recebeu uma proposta de dois grupos de investidores, interessados em construir naquela esquina. Em uma cidade onde quarteirões inteiros vão abaixo para dar lugar a novos e imponentes prédios, a possibilidade do estabelecimento ser derrubado sensibilizou os frequentadores, que fizeram o bar uma extensão das próprias casas. “A mobilização foi emocionante”, conta Millan, que viu 15 mil assinaturas serem encaminhadas ao Conpresp para que o estabelecimento fosse tombado. Mesmo sem valor histórico e arquitetônico, ele poderia ser protegido da destruição, por ser um bem afetivo, importante para a memória da sociedade.

O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) reconheceu o pedido, mas foi voto vencido pela maioria dos demais integrantes do Conpresp, que reúne representantes de diversos setores, como a Secretaria Municipal da Habitação e Desenvolvimento Urbano. Para a sorte dos donos do bar, a mobilização em torno do tombamento acabou espantando os grupos de investidores, que desistiram da compra. Recentemente, o contrato de aluguel do ponto do bar foi renovado por mais cinco anos.

O balcão da casa, de fato, é uma peça especial. Foi desenhado pelos arquitetos Nando Millan e Paulo Fecarotto, com pés de ferro e tampo de madeira elaborado pela marcenaria Zeca Cury, para ocupar todo o andar térreo do bar. As obras destacadas são um quadro Com o coração olhando para a lua, pintado pelo Jô Soares, e a serigrafia Wallpaper with Blue Floor, de Roy Lichtenstein. Esse acervo não fazia parte do pedido inicial de tombamento. E não protege de nenhuma forma o bar, nem a memória afetiva de tantas paulistanos, que há 31 anos frequentam o Bar Balcão. Daí a estranheza do proprietário em relação à decisão do Conpresp de dar mais valor as coisas que estão lá do que ao prédio que acolhe a todos.

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