Quem vê o resultado de uma cirurgia plástica — a autoestima renovada e a autoconfiança em alta — muitas vezes não imagina o que vem antes disso: o pós-operatório. E não estou falando só de curativos e consultas. Falo de um processo real, intenso, que exige comprometimento, paciência e muito cuidado.
Ao longo dos anos como cirurgião plástico, tenho reforçado que o pós-operatório é, na prática, a fase mais decisiva do tratamento. Ele é o que sustenta todo o trabalho feito na sala de cirurgia. E, ainda assim, é a parte que mais tende a ser negligenciada, muitas vezes por ansiedade, expectativa ou falta de preparo emocional.
Por isso, quero falar de forma direta e transparente sobre o que realmente acontece depois da cirurgia. Sem romantizar, sem assustar, mas com a responsabilidade de quem acredita que informação é necessária para um resultado consistente.
O primeiro ponto é entender que o corpo não “acorda pronto” no dia seguinte à cirurgia. O inchaço é real. O desconforto, também. Em alguns procedimentos, como lipoaspiração ou abdominoplastia, o corpo passa semanas se ajustando, cicatrizando, modelando. É um processo contínuo, e tentar apressar isso pode comprometer o resultado.
Nos primeiros dias, dormir de lado pode ser impossível. Andar, tomar banho, se vestir — tudo exige cuidado. O repouso é necessário, mas também é desconfortável. As cintas modeladoras apertam. As drenagens linfáticas, apesar de aliviarem os sintomas, nem sempre são agradáveis no início. É o corpo dizendo: “estou me adaptando”. E é aí que entra o compromisso do paciente com o próprio processo.
Durante a recuperação, o corpo trabalha em ritmo acelerado para se regenerar. Por isso, uma alimentação equilibrada, rica em proteínas, frutas, verduras e muita água, é fundamental. Comer mal nessa fase atrasa a cicatrização, favorece inflamações e dificulta o controle do inchaço.
Eu sempre reforço: a drenagem pós-cirúrgica feita por profissionais especializados é uma aliada poderosa na recuperação. Ela ajuda a eliminar líquidos, reduz desconfortos e previne fibroses. Em muitos casos, percebo que o tempo de recuperação encurta justamente porque o paciente seguiu o protocolo de drenagem com seriedade.
Outro ponto pouco falado: o lado emocional. Muita gente se frustra por não enxergar imediatamente o corpo dos sonhos no espelho. É comum oscilar entre empolgação e insegurança. E tudo bem. Essas emoções fazem parte. O importante é ter em mente que o resultado definitivo é construído aos poucos, e que cada fase da recuperação é uma etapa fundamental dessa construção.
O meu trabalho não termina quando o procedimento acaba. Continuo acompanhando o paciente em cada fase da recuperação, ajustando condutas, observando a evolução, acolhendo dúvidas e, muitas vezes, reforçando a importância de continuar cuidando.
*José Cury é cirurgião plástico