“Now, ladies and gentlemen… honored by their country, condecorated by their queen and loved here in America, here they are: The Beatles! (“E agora, senhoras e senhores… homenageados por seu país, condecorados por sua rainha e amados aqui na América, aqui estão eles: The Beatles!”).” A apresentação de Ed Sullivan deu início àquele que pode ser considerado o maior show de rock de todos os tempos. Ele não entrou para a história exatamente por sua qualidade. Longe disso. O quarteto de músicos não conseguiu entender o que estava tocando e o público tampouco ouvia o som produzido no palco.
O show em questão, o dos Beatles na casa do time de beisebol New York Mets, o Shea Stadium, nos Estados Unidos, em 1965, marcou o início da turnê americana do Fab Four, ocorrida em meio ao terremoto que ficou conhecido como a beatlemania. A apresentação começou com Twist and Shout, tendo à frente a voz rouca de John Lennon. Ao longo de cerca de trinta minutos, eles tocaram outras onze músicas, parte delas do álbum Help!. Era ainda a fase ingênua da banda, que só passou a sofisticar as composições e arranjos a partir do disco seguinte, Rubber Soul. Mesmo se considerando as precárias condições técnicas, o espetáculo representou um marco. Confira aqui um vídeo com o início da apresentação:
Realizado em um estádio de beisebol, o evento representou o marco inicial da era dos mega-shows: reuniu mais de 55 000 pessoas. Os ingressos se esgotaram em questão de horas. Vale lembrar que, naquele tempo, não havia toda a máquina de divulgação disponível na atualidade, incluindo as ofertas nas redes sociais. A multidão reunida representou um recorde para a época. Até então, o maior concerto de rock ao ar livre havia sido realizado no ano anterior — o de Elvis Presley, com 26 000 pessoas no Cotton Bowl, em Cleveland. O recorde dos Beatles só seria batido muito tempo depois, pelo Led Zeppelin, que tocou em 1973 para 56 800 fãs no Tampa Stadium, na Flórida.
Do ponto de vista musical, a apresentação no Shea Stadium foi um fiasco. Isso ocorreu devido às precárias condições técnicas da época. É verdade que não faltaram esforços para tentar melhorar a qualidade do som. A VOX fabricou para a ocasião amplificadores maiores, aumentando a potência de cada um deles de 30 watts para 100 watts. O que saía de lá era retransmitido para o sistema de alto-falantes do estádio. Mesmo assim, ninguém conseguiu ouvir nada, tamanha a gritaria do público.
A banda no palco realizou uma espécie de voo cego. Conforme contou em entrevistas, o baterista Ringo Starr tentava adivinhar em que ponto estava nas músicas olhando os gestos dos companheiros da banda à sua frente, de costas para ele. Tempos depois, John Lennon declarou que aquela apresentação representou o ponto alto da carreira do Fab Four. Em 1966, o grupo decidiu não fazer mais apresentações ao vivo, passando a concentrar esforços nas gravações em estúdio, que passaram a ficar mais complexas e desafiadoras.
O histórico espetáculo no Shea Stadium receberá uma homenagem tocante na próxima sexta, 15, durante o jogo entre o New York Mets contra o Seattle Mariners. A celebração contará com a presença de membros da equipe de produção que trabalharam no concerto de 1965, show de fogos de artifício e uma banda cover dos Beatles, a The Tribute.
Não vai faltar no repertório, claro, o grito de Twist and Shout: Well, shake it up, baby, now (shake it up baby).