A entrada em vigor das tarifas de 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos impõe desafios ao governo brasileiro e eleva a cautela do mercado financeiro. Com as contas públicas no vermelho, analistas e economistas alertam para o impacto fiscal do pacote de ajuda aos setores mais atingidos pelo tarifaço. Nesta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o texto do pacote para atenuar os efeitos da taxação será concluído hoje e entregue ao presidente Lula, que decidirá quando fará o anúncio.
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, chama atenção para o impacto do pacote de ajuda prometido pelo governo sobre as contas públicas. “A medida dos EUA escancara os efeitos indiretos sobre a produção nacional e amplia o alerta sobre a fragilidade fiscal do Brasil. Diante de um orçamento já comprometido, a sinalização de novas medidas de apoio a setores atingidos pode ampliar ainda mais a pressão sobre as contas públicas. Mesmo com o anúncio de um pacote emergencial envolvendo crédito subsidiado e compras públicas, o espaço fiscal segue restrito”, afirma.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, também alerta para a dificuldade do governo em apoiar os setores atingidos sem ampliar o rombo das contas públicas. “O ponto mais sensível está no campo fiscal: o governo já opera com espaço orçamentário restrito, e medidas emergenciais de apoio aos setores afetados podem pressionar ainda mais as contas públicas. O desafio será equilibrar apoio produtivo com responsabilidade fiscal, sem comprometer a credibilidade macroeconômica”, diz.
Reação do mercado
Na análise do analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima, as reações de mercado tendem a seguir dois caminhos. “No curto prazo, podemos observar maior volatilidade no câmbio, nas curvas de juros futuros e em setores diretamente afetados, como agronegócio, têxtil e aeronáutico. Já no médio prazo, o mercado buscará reposicionar portfólios com foco em ativos menos expostos ao comércio bilateral com os EUA e mais resilientes à reprecificação de risco país”, diz.
Para investidores e gestores, o momento exige postura ativa e seletiva. “Mais do que se defender, é hora de identificar oportunidades geradas por assimetrias de preço e fluxo, especialmente em crédito privado e setores que ganham competitividade relativa”
Para Evandro Buccini, diretor de crédito da Rio Bravo, o cenário é de poucas chances para uma solução rápida o que vai refletir na precificação dos ativos domésticos. “O Brasil não está bem posicionado para negociar as tarifas e o teatro político interno de ambos os países não ajuda. A expectativa atual é de que as tarifas de 50% sobre aproximadamente metade da pauta exportadora devem permanecer por algum tempo. Qualquer desenvolvimento positivo ou negativo a partir disso deve ter reflexo na precificação dos ativos domésticos”, diz.
Na próxima quarta-feira, o ministro Haddad vai conversar com o secretário do Tesouro Scott Bessent. ” Recebemos o e-mail confirmando de hora, oficializando o interesse em conversar. Obviamente que vai depender da qualidade da conversa, ela pode se desdobrar em uma reunião de trabalho presencial”, afirmou.