Israel permitirá a entrada controlada de suprimentos na Faixa de Gaza através de comerciantes, anunciou o Coordenador de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT, na sigla em inglês) nesta terça-feira, 5. A agência do Ministério da Defesa israelense é responsável por coordenar a entrada de ajuda humanitária no enclave, além de supervisionar a política civil da Cisjordânia.
“As mercadorias incluem produtos alimentícios básicos, alimentos para bebês, frutas e vegetais e itens de higiene. Os pagamentos pela compra dessas mercadorias serão realizados apenas por meio de transferências bancárias, sob um mecanismo de monitoramento e supervisão. Todas as mercadorias serão submetidas a uma inspeção completa”, informou a COGAT no X, antigo Twitter.
O COGAT afirmou que, para implementar a nova política, “um número limitado de comerciantes locais foi aprovado, sujeito a critérios específicos e a uma triagem de segurança”. A agência disse que continuará a “operar mecanismos de monitoramento e supervisão para a entrada de ajuda na Faixa de Gaza, tomando todas as medidas possíveis para impedir o envolvimento do Hamas nos processos de entrada e distribuição da ajuda”.
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‘Pior cenário de fome’
O mecanismo tem como objetivo “aumentar o volume de ajuda que entra na Faixa de Gaza, reduzindo, ao mesmo tempo, a dependência da coleta de ajuda pela ONU e por organizações internacionais”. O comunicado ocorre enquanto a fome se alastra em Gaza, resultado de mais de um ano de guerra e do bloqueio parcial israelense à entrada de ajuda. Ao menos 175 pessoas, entre elas 93 crianças, morreram de fome desde o início do conflito entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, em 7 de outubro de 2023.
Em relatório, a Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), apoiada pela ONU, alertou na última terça-feira, 5, que “o pior cenário possível de fome está atualmente se concretizando na Faixa de Gaza”. O documento apontou que as restrições de Israel à entrada de ajuda humanitária no enclave e os combates entre soldados e membros do Hamas produziram o quadro atual e pediu, com urgência, intervenção imediata da comunidade internacional para salvar pessoas da morte iminente.
“Evidências crescentes mostram que fome generalizada, desnutrição e doenças estão causando um aumento nas mortes relacionadas à fome”, afirmou o IPC. “O pior cenário de fome está se concretizando atualmente na Faixa de Gaza.”
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Caos na GHF
O despreparo da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) também está por trás do aumento da desnutrição no território palestino. Apoiado pelos Estados Unidos e por Israel, o grupo privado é encarregado de distribuir ajuda humanitária em Gaza desde 16 de maio, quando o governo israelense permitiu a entrada de suprimentos pela primeira vez em meses. A GHF é criticada pelas Nações Unidas e por outras organizações humanitárias pela ineficácia e por usar seguranças armados.
Nos últimos meses, as cenas de caos em pontos da GHF mostram um padrão: soldados israelenses disparam nos arredores, enquanto palestinos desesperados tentam buscar mantimentos para suas famílias. Um levantamento da ONU, divulgado em meados de julho, apontou que 875 palestinos foram mortos enquanto tentavam acessar ajuda. Desse número, 674 vítimas estavam em locais da GHF.