Novos IPOs na bolsa de valores? Só em 2027. A análise é de Daniel Wainstein, sócio e fundador da Seneca Evercore, empresa brasileira de assessoria financeira especializada em fusões e aquisições com sede na Faria Lima, em São Paulo. “Nossa previsão estava realmente adequada, infelizmente. Infelizmente porque não é um cenário que nenhum de nós gostaríamos”, indica o executivo. O último IPO na bolsa de valores brasileira completa quatro anos em dezembro deste ano.
A operação derradeira, até o momento, foi feita pelo Nubank, que lançou por aqui BDRs de suas ações que passaram no mesmo mês a serem negociadas nos Estados Unidos. O último IPO ‘pra valer’ ocorreu um pouco antes, em agosto de 2021, e foi da Vittia, que atua nos segmento de fertilizantes e defensivos agrícolas. Desde então, a bolsa recebeu apenas o que o mercado chama de follow-on, quando uma empresa já listada oferece novo lote de ações aos interessados, normalmente com vistas a levantar mais capital.
Números e seus problemas
Para o executivo, há setores que poderiam buscar a bolsa de valores. Empresas ligadas aos segmentos de estradas de rodagem, ou eletricidade, por exemplo, companhias das quais não se espera um crescimento muito alto e que a oferta de ações poderia servir como caminho para a monetização dos acionistas. Mas o problema está num conjunto de números.
Estudo da própria Seneca indica o seguinte: das 77 companhias que estrearam na bolsa brasileira desde 2014, só 16 delas tiveram desempenho positivo em relação ao preço fixado no IPO. Só dez tiveram performance superior ao Ibovespa no período. E considerando o preço fixado no IPO ajustado pelo CDI acumulado, somente quatro registraram desempenho positivo em relação ao preço fixado na estreia na bolsa de valores. São tão poucas que é possível citá-las. Ambipar, Cury, Orizon e Eletromidia. “Ou seja, se você é um investidor, e você colocou dinheiro em qualquer uma das 73 empresas entre as 77 possíveis, você teria ganho mais deixando o seu dinheiro parado”.
Isso, se a decisão fosse de um investidor comum. Ao extrapolar isso para fundos de investimento, que precisam por dever de ofício, fazer com que sua estratégia renda necessariamente acima do CDI, o gestor que apostou nessas empresas debutantes na bolsa de valores na última janela de oportunidade perdeu dinheiro. “E muitos perderam seus empregos”.
Para o criador da Seneca Evercore, muitas empresas não deveriam ter entrado na bolsa de valores, não estavam preparadas, com resultados consistentes. Mas como as janelas de ingresso são esporádicas, há um efeito de manada. “Todo mundo vai, mas poucas realmente estão prontas”.
Panorama da bolsa de valores
O Ibovespa, principal índice de referência da bolsa de valores, experimentou um primeiro semestre extremamente positivo. A bolsa chegou então a 141 mil pontos. A guerra tributária deflagrada por Donald Trump contra o Brasil complicou as coisas e a bolsa voltou para o patamar de 133 mil pontos. Diante disso, coloca-se atualmente em dúvida a capacidade do índice chegar na marca histórica dos 150 mil pontos. À medida que o ano avança, e 2026 se aproxima, a situação tende a ficar mais volátil, comumente o cenário esperado para o ano de eleições majoritárias e para as casas legislativas.