Em 1991, a Globo lançou a novela O Dono do Mundo, escrita por Gilberto Braga, a segunda parte de uma trilogia de folhetins com críticas sociais que o autor queria fazer após Vale Tudo (1988) e antes de Pátria Minha (1994). A trama segue Márcia (Malu Mader), uma jovem humilde e virgem que é seduzida pelo cirurgião plástico rico e inescrupuloso Felipe Barreto (Antonio Fagundes) e, com isso, acabou perdendo qualquer simpatia do público. Parte do Projeto Resgate, do Globoplay, O Dono do Mundo chegou recentemente ao catálogo da plataforma de streaming da Globo.
A história começa com o casamento da professora Márcia com Walter (Tadeu Aguiar), funcionário da clínica de Felipe, que dá de presente para o casal uma viagem de lua de mel para o Canadá. Durante a cerimônia, o vilão aposta uma caixa de champanhas caros com seu melhor amigo, Júlio (Daniel Dantas), que levará a moça inocente para a cama antes do marido. Para isso, Felipe inventa uma desculpa para viajar para o mesmo destino que os recém-casados, se hospedando no mesmo hotel que eles, inclusive, e arma para que Walter se afaste de Márcia, dando oportunidade para que o cirurgião a seduza. Sem imaginar o plano sórdido do médico, a mocinha se deixa levar e aparece na porta dele e, de fato, perde a virgindade com Barreto.
Walter acaba flagrando os dois na cama e sai desesperado do local, chorando, e tira a própria vida em um acidente fatal. De volta ao Brasil, Márcia descobre que está grávida de Felipe e conta para ele, que revela que tudo não passou de uma aposta e a incentiva a fazer um aborto. Desolada, a protagonista acaba perdendo o bebê e inicia uma jornada de vingança contra o cirurgião plástico mesmo que, no fundo, continue apaixonada por ele.
Todo o enredo da perda de virgindade de Márcia aconteceu na primeira semana da novela, e o público não conseguiu perdoar a personagem por se entregar tão facilmente para o vilão e trair seu marido. Pesou contra a mocinha ainda o carisma de Antonio Fagundes, que vivia seu primeiro vilão após uma sequência de galãs, e os telespectadores acabaram glorificando o mau-caráter. Gilberto Braga precisou correr contra o tempo para tentar salvar a novela, que sofreu rejeição do público junto com Márcia e estava perdendo audiência para a novela mexicana Carrossel (1991), no SBT. Para isso, ele escreveu uma cena em que Márcia cortava o rosto de Felipe e ia presa, na tentativa de gerar empatia — mas o efeito não fez milagre.
“Era uma história séria sobre luta de classes, pobre levando porrada e não tendo como se defender. A audiência começou a cair, e eu tive que mudar isso. Ficou uma bela porcaria. Mais para a frente, melhorei um pouquinho. Foi uma novela problemática, que entrou com grande qualidade e sem nenhuma aceitação popular. Depois que o noivo se matava, eu tinha uma heroína de quem o público não gostava e um vilão que o público admirava”, declarou Gilberto Braga no livro Autores: História da Teledramaturgia (2008), lançado pelo projeto Memória Globo.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
- Tela Plana para novidades da TV e do streaming
- O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
- Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
- Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial