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Justiça da Colômbia condena ex-presidente Álvaro Uribe por suborno e fraude

A Justiça colombiana declarou na segunda-feira, 28, o ex-presidente Álvaro Uribe, de 73 anos, culpado pelos crimes de suborno de testemunhas e fraude processual.

Esta é a primeira vez na história moderna do país que um ex-mandatário é condenado criminalmente, um marco para o sistema judicial colombiano e um forte sinal de que nem mesmo os mais poderosos estão acima da lei.

A juíza Sandra Heredia, responsável pelo veredicto, afirmou que Uribe orientou seu advogado, Diego Cadena, a oferecer vantagens ilegais a testemunhas como o ex-paramilitar Juan Guillermo Monsalve.

O objetivo era conseguir declarações favoráveis a Uribe e prejudicar o senador de esquerda Iván Cepeda, que o denunciava por supostos vínculos com grupos paramilitares.

“No momento dos fatos, Álvaro Uribe Vélez tinha plena consciência da ilegalidade de suas ações”, afirmou Heredia.

A sentença definitiva será anunciada na próxima sexta-feira. A pena pode chegar a até nove anos de prisão, com possibilidade de cumprimento em regime domiciliar.

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Um julgamento histórico

O processo penal começou em fevereiro deste ano, após mais de uma década de tentativas da defesa de arquivar o caso.

Embora a Procuradoria tenha inicialmente apoiado Uribe, sobretudo durante a gestão de Francisco Barbosa, aliado político do ex-presidente, o rumo mudou em 2024 com a chegada da nova procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, que formalizou a acusação.

Segundo o Ministério Público, Uribe arquitetou uma estratégia para manipular o sistema judicial, pressionando testemunhas a se retratarem.

Durante a audiência, a juíza dedicou boa parte do dia para desmantelar os principais argumentos da defesa.

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Heredia considerou legítima uma gravação feita com um relógio espião por Monsalve, testemunha-chave, e também validou interceptações feitas pela Suprema Corte, mesmo que iniciadas por engano.

Para ela, Monsalve demonstrou ser confiável, ao contrário das testemunhas apresentadas por Uribe, cuja credibilidade foi questionada por contradições.

Uribe foi absolvido de apenas um dos crimes imputados: o de suborno simples.

Raízes do caso: paramilitarismo e política

A origem do caso remonta a 2012, quando o senador Iván Cepeda acusou Uribe e seu irmão Santiago de fundarem e financiarem um grupo paramilitar, o Bloque Metro, na Fazenda Guacharacas, de propriedade da família Uribe, em Antioquia.

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Monsalve, filho do capataz da fazenda, foi o principal delator. Em 2018, o advogado de Uribe visitou Monsalve na prisão e lhe ofereceu benefícios jurídicos em troca de uma retratação, conversa registrada em áudio e usada como prova no processo.

Diante disso, a Suprema Corte arquivou a denúncia contra Cepeda e abriu uma investigação contra Uribe. A Corte chegou a decretar prisão domiciliar do ex-presidente em 2020, mas ele renunciou ao Senado para que o caso fosse transferido à Justiça comum.

Divisões políticas e impacto nacional

A sentença contra Uribe gera repercussões que vão além dos tribunais. Para seus apoiadores, trata-se de um julgamento político e uma tentativa de perseguição.

O partido Centro Democrático, fundado por Uribe, já anunciou que irá recorrer à segunda instância, e, se necessário, à Sala de Cassação da Suprema Corte.

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Já a oposição celebra a decisão como uma vitória da justiça. “Hoje é um dia histórico para a democracia”, afirmou Iván Cepeda, ao fim do julgamento. Para ele, a decisão mostra que “ninguém pode impunemente violar a lei”.

Circulam rumores em Bogotá de que Cepeda poderá se lançar como candidato à presidência em 2026, impulsionado pelo papel que desempenhou neste processo.

Um legado em xeque

Popular por sua política de segurança e sua retórica de combate às guerrilhas, Uribe governou entre 2002 e 2010 e sempre teve altos índices de aprovação. Mas seu legado é profundamente controverso.

Seu governo foi marcado por graves violações de direitos humanos, como execuções extrajudiciais de civis e espionagem ilegal de opositores.

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A relação de Uribe com o paramilitarismo sempre foi um fantasma em sua carreira, e embora o veredicto atual não trate diretamente desse vínculo, ele escancara as tentativas de silenciar quem tentava denunciá-lo.

A condenação, em primeira instância, será provavelmente levada à Suprema Corte, onde o ex-presidente promete continuar sua batalha judicial.

Mais de 13 anos depois do início da denúncia, o processo contra Uribe ainda está longe do fim. Mas, pela primeira vez, o peso da Justiça recai sobre um dos nomes mais influentes da política colombiana.

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