O prazo apertado para se estabelecer uma cordo entre Brasil e Estados Unidos que coloque fim ao embate comercial travado atualmente deve entrar na pauta do Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado se reúne a partir de terça-feira, 29, em Brasília, para decidir sobre a nova taxa básica de juros da economia. Mas é difícil que o tema modifique algo da decisão da autoridade monetária. Em outras palavras: o assunto deve se fazer presente no encontro – e isso será clarificado ou não pelo comunicado emitido na noite de quarta-feira -, mas a Selic deve ficar em 15% ao ano, com o Banco Central informando que o ciclo de alta acabou.
“Certamente (o tarifaço) vai entrar na pauta, mas não com efeito nos juros porque há incerteza sobre a resposta brasileira”, analisa Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Se houver reação de mesmo tamanho pode ser um problema inflacionário para nós. Mas o BC ainda não pode se movimentar com o que temos de informação, apenas observar”, conclui o especialista.
O fator inflação
A expectativa em torno da inflação é de queda no curto e médio prazos. O Boletim Focus emitido nesta segunda-feira, 28, pela autoridade monetária prevê que o IPCA chegue a 5,09% no fim deste ano – é uma ligeira queda em relação ao esperado na semana passada. Em 2026, a inflação oficial do país seria de 4,44% – e nos dois anos seguintes de 4% e 3,8%, respectivamente em 2027 e 2028.
Assim, a expectativa gira em torno que a Selic termina o ano no patamar atual de 15%, mas cai para 12,50% em 2026, para 10,50% em 2027 e para 10% em 2028. Não há qualquer mudança de expectativa em torno da taxa básica de juros já por muitas semanas.
Comentando a respeito da reunião do Copom, o Itaú Unibanco já colocou na conta da sua análise o tarifaço, descrito em outras palavras como cenário externo incerto. Dessa maneira, para o Itaú a taxa fica em 15% e, sim, o ciclo altista será interrompido. A decisão deve refletir a “avaliação de que, apesar das projeções de inflação ainda acima da meta, os efeitos defasados da política monetária seguem em curso, enquanto a elevada incerteza global demanda cautela adicional”.
Para além da definição do Copom, a indefinição em torno da tarifa de 50% a ser imposta pelos Estados Unidos ao Brasil deve mesmo é trazer volatilidade para o mercado nesta semana. “Semana bem importante para o mercado, pode ter volatilidade sim”, indica o head de tesouraria do C6 Bank. O executivo compartilha de uma visão percebida pela VEJA NEGÓCIOS com mais agentes do mercado durante a semana passada.