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Como o subúrbio carioca está sendo reconfigurado, segundo antropóloga

    Em busca de entender as raízes do subúrbio brasileiro, a antropóloga da Universidade Federal Fluminense (UFF) Caroline Bottino, 36 anos, se aprofundou no tema para escrever A vizinhança tá on! Sociabilidade em um condomínio clube nos subúrbios cariocas (ed. Telha). No Rio, o local, associado à periferia, é repleto de estigmas elitistas: a fofoca na vizinhança, o churrasco de fim de semana e a união de famílias. Para Bottino, essas características, no entanto, vêm aos poucos se modificando devido às redes sociais.

    “Os grupos de Whatsapp do condomínio que  pesquisei são uma enorme rede de relações vicinais que vão desde pedidos de ajuda, empréstimos, indicações de serviço, até informações sobre a segurança. No entorno, se está tendo tiroteio, se faltou luz, enfim, é uma forma de substituir a vizinhança de antigamente, que demandava estar presente fisicamente… como bater papo com o vizinho no portão para saber das fofocas. Embora os grandes condomínios tenham mudado a paisagem e a configuração espacial nos subúrbios, as redes sociais se tornaram a rua, assumindo o lugar da cadeira no portão e permitindo ser vizinho 24 horas por dia, todos os dias do ano”, explica à coluna GENTE.

    Em espaços, muitas vezes, caracterizados por casas de muros baixos, vasto quintal e chão de casquinhos vermelho, vizinhos colocavam suas cadeiras de plástico em frente ao portão para ver as crianças brincarem na rua. Cenário saudosista que, garante a estudiosa, ainda está vivo num imaginário romantizado.  “Tratando-se de pessoas, mas também das intervenções urbanas, do aumento da violência, esses bairros foram sendo transformados, tendo suas antigas fábricas abandonadas, adquiridas por grandes incorporadoras que primeiro foram construindo shoppings center e depois condomínios residenciais de grande porte. Os subúrbios estão sendo reconfigurados estruturalmente, porém as relações, a suburbanidade, vêm se adaptando a outro cenário. O que está em constante mudança são as pessoas e a forma como se relacionam umas com as outras, hoje muito mais mediadas pelas redes sociais do que antes. Contudo, as festas juninas, as confraternizações, os grupos de vizinhos, estes continuam muito ativos, dentro e fora dos condomínios e também das redes sociais”, acrescenta.

    Bottino ressalta que apesar dessa nova configuração, o subúrbio ainda é alvo de preconceito – muito mais que a favela, em sua visão.  “A favela está conseguindo, aos poucos, conquistar as pessoas ao ponto de terem orgulho de pertencer, de se declarar; já os subúrbios ainda enfrentam o estigma fomentado nas últimas décadas do século XX, como sinônimo de um lugar atrasado, de pessoas com gostos duvidosos, mal educados, cafonas e até um pouco ignorantes”. Esse estereotipo, a  seu ver, é reforçado por obras de humor, tratando o suburbano como sátira e lugar de referência à pobreza e cafonice. “É preciso expandir essa mentalidade midiática que retrata os subúrbios em tom jocoso, lugar de um personagem trabalhador mediano, limitado. O subúrbio ainda é um meio do caminho entre a favela e a zona sul, uma dicotomia bem carioca, que foi deixando o subúrbio de lado. Vale a pena um retorno aos subúrbios, hoje, por parte de quem produz cinema, novelas, séries; mas também pelos responsáveis por políticas públicas, para dar conta da pluralidade desse espaço que vai além dessas reduções simplistas”, completa.

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