Autor de novelas como Sangue Bom (2013) e A Lei do Amor (2016), e colaborador de sucessos como A Favorita (2008), Vincent Villari, 47 anos, coleciona mais do que roteiros. O vínculo com o ofício está também nas trilhas sonoras e em casa, onde guarda 5.478 discos nacionais e internacionais, entre LPs, fita K7 e CDs, com cada nome organizado em planilha. A paixão é tamanha que o escritor usa canções até para criar personagens e já se arriscou em lançar as suas próprias composições; uma delas, aliás, em parceria com o MC Leozinho. Em conversa com a coluna GENTE, Villare explica a importância histórica das trilhas para novelas, fala sobre a crise nas produções atuais e quebra o silêncio sobre sua convocação para “salvar” a problemática Mania de Você (2024).
O que te levou a colecionar LPs? Coleciono discos desde os 7, 8 anos. Gostava de entrar nas lojas e ver aquela prateleira cheia, achava tão bonito. Quando adulto, tinha isso como uma memória de felicidade. Nunca imaginei ter mais um disco de cada. Isso veio quando comprei um em melhor estado do que eu tinha e fiquei com pena de me desfazer do outro. Montei os LPs na parede, como se fosse uma lojinha, e assim foi crescendo. Acho que o único disco que tenho só um é da novela Garota do Momento. Eles fabricaram 50 para distribuir de brinde na produção. Como algumas pessoas se desfizeram, conseguir ficar com um.
Lembra qual foi o primeiro LP que comprou? Selva de Pedra nacional, quando era criança.
Na sua opinião, qual é a importância da música em novelas? Infelizmente hoje não tem mais, mas antes era fundamental. A música dava o clima e, muitas vezes, levava informações que o texto e os atores não davam. Por exemplo, a Viúva Porcina [interpretada por Regina Duarte em Roque Santeiro (1985)] era aparentemente uma vilã, uma mulher chata, vazia… Mas quando entrava a música Dona, do Roupa Nova, a gente a enxergava de outro modo, como uma mulher forte. Isso me fascinava. Até hoje, quando vou criar personagens, escolho uma música para me servir de guia e me inspirar.
Já pensou em escrever músicas para novelas? Escrevi duas. Quando fiz Sangue Bom, escrevi uma letra de música para a personagem Mulher Mangaba, interpretada pela Ellen Roche. Resolveram gravar a música e colocar no disco da novela. O nome era A Solteirinha da Pompeia. Aquilo fez tanto sucesso que, quando saiu o segundo disco, fiz outro funk chamado Hoje Eu Tô Descontraída. Quem fez a melodia foi o MC Leozinho. Engraçado né? Tenho parceria com Maria Adelaide Amaral, João Emanuel Carneiro e com o MC Leozinho (risos).
As novelas vêm registrando baixa audiência. Como autor, o que pensa disso? Não tenho acompanhado tanto, pois estou mais focado nas novelas antigas do Globoplay. Mas esse negócio de crise é muito relativo, pois ouço isso desde os anos 1980. Quando estava fazendo pesquisa para os meus vídeos sobre trilhas musicais no YouTube, vi que já se falava sobre isso há décadas. Em algum momento vai surgir uma novela que seja uma grande unanimidade e a gente vai parar.
Gosta de trabalhar em remakes? Fiz dois: fui colaborador em Anjo Mau (1997) e estive no front do remake de Ti Ti Ti (2010). Foram experiências maravilhosas. Fui muito feliz em Ti Ti Ti, uma fusão com Plumas e Paetês (1980).
Não acha arriscado fazer um remake com um clássico como Vale Tudo? Não posso falar de Vale Tudo, pois não estou vendo. Mas uma coisa muito importante para mim e para a [Maria] Adelaide [Amaral] é ser fiel ao espírito da obra original, espírito do autor. A gente nunca perdeu de vista aquele humor crítico e sarcástico do Cassiano [Gabus Mendes]. A gente trazia a história para o presente, mas não perdia de vista a personalidade do autor original.
Houve rumores de que você foi convocado para “salvar” Mania de Você. Como foi esse chamado? Não me chamaram por causa da crise. Não fui convocado para socorrer nada, já estava em vista. O João [Emanuel Carneiro] me queria na novela, a gente trabalhou muitas vezes juntos. Mas só na segunda ou terceira semana que finalmente a Globo me chamou, pois o processo de contrato por pessoa jurídica exige uma série de procedimentos, e legalmente não podia começar a escrever. A empresa só libera a ferramenta quando estiver tudo assinado. Com o João, eu trabalhava sem escrever capítulo, eu ia ajudando a bolar a história com ele.
Qual é o futuro das novelas? O fato de os seriados terem duas, três, quatro temporadas também indica como o telespectador gosta de ficar dentro de uma história por muito tempo. Mas acredito que ainda teremos muito tempo pela frente. Pode ser que as coisas mudem, que fiquem mais simples, mas o público ainda é muito grande. As novelas vão se adaptar. E o ibope de 20 pontos não é crise. A versão original de Pantanal (1990), por exemplo, é lembrada como um grande sucesso e registrou 22 pontos. Essa crise que chamam significa ainda 40 milhões de telespectadores.