A Inquisição, uma das grandes marcas da Idade Média, ficou conhecida pelo atos de perseguição e tortura contra aqueles que desafiassem as tradicionais normas do catolicismo. Ambientando nessa época, o escritor e jornalista Roberto Blattes escreveu o romance O Sambenito Amarelo (Ed. Cândido), que conta a história de dois judeus que se apaixonam em meio aos horrores inquisitoriais – uma maneira de falar sobre a história da luta LGBTQIA+. “Sambenito era uma vestimenta de humilhação, de vergonha, imposta pela Inquisição na tentativa de apagamento do que consideravam hereges, era um um símbolo de vergonha – no caso, a cor amarela era para os judeus. O sambenito que eu estou trazendo agora é símbolo de resistência de um amor gay, quando o personagem principal se nega, quando julgado pela Inquisição, a usá-lo”, afirma à coluna GENTE.
Segundo Blattes, a escolha de protagonistas judeus veio após anos de pesquisa, percebendo como o grupo religioso é invisibilizado pelos livros. “Durante muito tempo, quando se lê sobre a Inquisição, era jogado para o rodapé, falava-se muito de bruxas, de hereges, mas não dos judeus. Os protagonistas gays, para mim, é mais uma escolha humana, onde o amor entre os iguais sempre existiu. É só olhar para a história da humanidade, desde Alexandre o Grande. É um gesto de reparação até poética e política”, acrescenta.
Blattes lembra como, durante a Inquisição, a Igreja utilizava o nome de Deus para justificar seus atos – algo que, a seu ver, segue perigoso no sentido mais amplo das religiões. “A inquisição moderna está nas entrelinhas, é perigosa porque é utilizada o tempo todo. Muitas pessoas são mortas pela sua criatividade, seu poder de expressão, o outro não aceita isso. Os inquisidores de hoje têm crachá, seguidores, canal no YouTube. Seguem fazendo o que sempre fizeram: controlando pelo medo, oprimindo pelo costume, condenando pelo que não compreendem. O tribunal agora é digital”, completa.