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Aliados pressionam e Zelensky desiste de diluir combate à corrupção

“Tirando vantagem da guerra, Volodymyr Zelensky está dando os primeiros, mas firmes, passos no caminho do autoritarismo corrupto.” Foi assim a gravíssima a acusação feita por Vitali Shabunin, diretor de uma ONG de combate à corrupção. As circunstâncias explicam a dureza: havia acabado de ser alvo de buscas, juntamente com mais dezenas de casos similares.

O presidente ucraniano acabou salvo de si mesmo pelos amigos influentes que tem na Europa e nos Estados Unidos. Sob pressão desses aliados dos quais a Ucrânia depende para sobreviver à invasão russa, ele desistiu de medidas insensatas que desarticulariam instrumentos, já nada brilhantes, de combate à corrupção endêmica.

Entre elas, um projeto de lei aprovado pelo Parlamento e assinado por ele que colocaria sob supervisão da procuradoria-geral, e portanto da presidência, dois órgãos autônomos que investigam denúncias de corrupção contra nada menos que 268 pessoas ligadas a Zelensky.

Houve protestos nas ruas – bem modestos –, mas o que funcionou mesmo foram os telefones. Múltiplos representantes da União Europeia reclamaram. O senador americano Lindsey Graham emitiu uma nota dizendo que o projeto prejudicava os avanços feitos no combate à corrupção e “vai contra o tremendo espírito de luta da Ucrânia, bem como as expectativas da população e da comunidade internacional”.

PÉSSIMA REPUTAÇÃO

Recado dado, recado entendido. Zelensky recuou, não sem antes fazer um belo estrago em sua reputação, O senador Graham é um dos principais responsáveis pela mudança de opinião de Donald Trump em relação à guerra, contrariando suas tendências de simpatia por Vladimir Putin. Graham também é uma barreira vital à ala do trumpismo que prega o fim da ajuda à Ucrânia e diz que os americanos não têm interesses envolvidos nessa guerra.

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Indiretamente, o senador pode ter um efeito sobre questões brasileiras: ele propõe sobretaxas de nada menos que 500% para países que negociarem com a Rússia, um importante fornecedor de diesel e fertilizantes para o mercado brasileiro. Trump foi mais moderado e falou em tarifas de 100%.

A Ucrânia tem uma péssima reputação em matéria de corrupção, comparável, ironicamente, à da Rússia. Recentemente houve demissões em massa no departamento de recrutamento do Ministério da Defesa, justamente onde deveria vigorar um clima acima de qualquer suspeita. É devastador para o moral da nação saber que homens em idade de combate podem ser pegos no meio da rua para serem recrutados na marra, enquanto outros pagam para se livrar do serviço obrigatório.

As denúncias reais de corrupção misturam-se às acusações inventadas pela propaganda russa, dificultando distinguir o que é fato do que é produto de campanhas de desinformação. Uma das que mais circulam é que Zelensky tem uma mansão de 35 milhões de dólares na Flórida e 1,2 bilhão numa conta no exterior.

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Como humorista e produtor de programas de televisão, Zelensky realmente ficou rico. Segundo sua declaração de bens, tem imóveis e recebe rendimentos de investimentos e aluguéis. Em 2024, teve ingressos equivalentes a quase 370 mil dólares, incluindo o salário de presidente.

HERÓI DA RESISTÊNCIA

Zelensky decidiu ficar na Ucrânia, com a família, escondida num lugar separado, quando a Rússia parecia estar a poucas horas de conquistar Kiev. Foi uma atitude que conquistou o respeito de grande parte do mundo – só os admiradores do novo imperialismo russo divergiram. Continuou um processo de incrível transformação, em lances brilhantes para conseguir armas e dinheiro dos países ocidentais.

Já sabemos que ele foi eleito presidente num fenômeno sem precedentes. Interpretava numa série de televisão um professor que se revolta contra a corrupção em todas as esferas, faz um discurso para alunos, vira uma personalidade nacional e acaba eleito presidente.

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A vida superou, em muito, a arte e Zelensky virou não apenas presidente, mas um herói da resistência, um atilado aprendiz de estadista e um líder capaz de enfrentar a pressão dupla, de Vladimir Putin e Donald Trump. A conselho dos aliados europeus, ele aceitou um acordo com os Estados Unidos sobre a exploração de minerais estratégicos – um assunto que agora entrou em cena no Brasil. Isso ajudou a reverter a má vontade de Trump.

Perder esse capital seria um absurdo autodestrutivo.

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