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Ivan Lins: ‘A inteligência dos artistas incomoda a extrema-direita’

Um dos fortes nomes da música brasileira, Ivan Lins celebra 80 anos de vida e 55 de carreira em uma nova turnê, que começa neste sábado, 26, no Rio, e tem o Japão como parada final. No palco, ele promete uma viagem por sucessos, como Madalena, eternizada na voz de Elis Regina (1945-1982), e Lembra de Mim, tema de abertura da novela História de Amor (1995), além de inéditas, como Meninos de Gaza, sobre a tragédia palestina. À coluna GENTE, Lins conta que o incentivo para os shows veio do filho Cláudio Lins e não poupa críticas aos efeitos da tecnologia na arte, em especial a remuneração dos serviços de streaming. Além disso, faz um balanço da política brasileira – tema recorrente em suas músicas – e revela qual artista gostaria de ver gravando uma de suas canções.

Você já escreveu muito sobre política. O Brasil de hoje te inspira? Inspira mal. Existe um movimento anti-arte desde que a extrema-direita assumiu o poder no Brasil, há seis anos. A inteligência dos artistas os incomoda, porque disso eles não têm nada. Por serem vaidosos, ficam com inveja por não terem a capacidade de pensar tão bem o mundo como nós. Através da arte, nós levamos a mensagem para o grande povo, e isso ainda está em perigo. De certa maneira, sou um privilegiado por já ter escrito sobre o Brasil e nada mudou. As músicas que escrevi nos anos 1970 e 1980 continuam valendo hoje. 

Por quê? O Brasil não mudou nesse tempo. Todo mundo sabe que nós somos governados pelo centrão desde Sarney. Estamos sendo governados indiretamente por pessoas que não são do bem. Mas vamos levando com a barriga. Quer dizer, isso só pode nos inspirar a falar coisas que a gente não quer mais. 

A eleição do Lula não foi uma mudança neste sentido? Não. Apesar do esforço do Lula, aquele centrão continua lá. Isso é terrível. E é o pior da história, para mim. 

O que mudou na cultura da sua geração para as mais novas? Nós, das décadas de 1960 e 1970, vivemos outra realidade em relação à nossa arte. Foram anos gloriosos para a cultura. Hoje, essa plenitude é dificultada pela própria política e pela tecnologia. A internet enfraqueceu o poder da música quando quer chegar ao grande público. Continua sendo produzida, mas a gente precisa descobrir o link da pessoa para encontrá-la. A nova geração não tem a mídia aberta como tive. A internet é a única maneira de a gente se expressar e divulgar nosso trabalho.

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Quando fala da internet, se refere ao streaming? Sim. Para a pesquisa, é maravilhoso, pois se consegue ouvir toda a história da música. Mas para encontrar novidades, é difícil. Se você não acha o nome, não encontra o artista no streaming. Não tem mais a mídia aberta, que vai no programa de televisão e o Brasil inteiro assiste, assim como no rádio. 

Gosta ou não de ter sua música na internet? Gosto, mas gostaria de receber bem dela, como recebia antigamente, e que me sustentava, não precisava fazer tanto show. Sou um privilegiado. Falo pela minha classe, pelos compositores que não ganham com shows e ficam em casa escrevendo. Vejo letristas que abriram padaria, outros que trabalham com advocacia. A gente tem que agir, mas isso depende muito da consciência de classe para consertar o que está errado.

O que acha dessa nova geração, mirando na Anitta, que visa ao sucesso mundial? Eles fazem música para o povo, são extremamente populares, e o povão tem acesso a todos os avanços de tecnologia. No começo era tudo caro, mas hoje o acesso é mais fácil. É muito justo que sejam consumistas porque já passaram um bom tempo sem poder consumir. Essa camada de artistas, como a Anitta, faz música para eles. 

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As suas músicas já foram gravadas por grandes artistas. Tem alguém que ainda quer que grave algo seu? Uma que nunca gravou, mas que gostaria, é a Maria Bethânia, mas não fico triste. Ela é uma grande artista, com um repertório impecável. De fora, gostaria de ter sido gravado pelo Paul McCartney. Eu o conheci quando ele foi assistir a um show meu em Nova York, em 2001. Uma pessoa maravilhosa, totalmente do bem.

Tem planos de encerrar a carreira? Gostaria de fazer menos shows, mas parar nunca. Estar com o público é mágico, maravilhoso.

Vai levar alguma música inédita para essa nova turnê? Sim. Chama-se Meninos de Gaza. Evidentemente que o título já diz tudo. É uma música bem emotiva, pelo que está acontecendo na Palestina. É uma barbaridade. As crianças e mulheres são as grandes vítimas. Além disso, vou cantar uma música que nunca cantei, mas isso vou guardar em segredo. O público vai descobrir lá.

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E qual música que não pode faltar? Madalena. Corro risco de vida se não cantar. 

SERVIÇO:

  • Ivan Lins 80 anos
  • Data: 26 de julho
  • Horário: 21h
  • Local: Vivo Rio
  • Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 – Glória, Rio de Janeiro
  • Classificação: 18 anos
  • Ingressos: de 110 a 210 reais
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