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A agonia do ‘arquivo vivo’ do esquema de venda de sentenças judiciais

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu o benefício da prisão domiciliar ao lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, personagem-chave do esquema de venda de decisões judiciais revelado por VEJA em outubro do ano passado.

Detido no mês seguinte, Gonçalves deixará o Presídio Federal de Brasília, para onde foi transferido depois de alegar correr o risco de ser extorquido e assassinado em uma cadeia do Mato Grosso, e passará a usar tornozeleira eletrônica. Em casa, ele, que a interlocutores sempre reclamava ser o único dos réus graúdos a acabar provisoriamente atrás das grades, poderá se tratar da grave desnutrição sofrida ao longo dos meses preso.

A concessão de prisão domiciliar ao lobista ocorreu, de acordo com o ministro Zanin, porque laudos médicos oficiais atestaram grave quadro de saúde. Desde o final do ano, a defesa de Andreson alegava que ele definhava na cadeia, entre outras coisas, por ter se submetido a uma cirurgia no início de 2020 que, sem tratamento adequado, o impede de absorver nutrientes como um paciente comum.

Andreson retirou a parte final do intestino delgado e a reimplantou na região próxima ao estômago em uma técnica de emagrecimento similar a que o ex-apresentador de TV Fausto Silva e o ex-jogador de futebol e hoje senador Romário realizaram, e desde então convive com complicações da cirurgia.

Quando foi preso, em 26 de novembro de 2024, Andreson pesava 93 kg. Na cadeia, perdeu mais de 30% da massa corporal. Em carta ao ministro do STF, o lobista relatava quadros de depressão e afirmava que tinha pensamentos suicidas. Pelo menos desde janeiro os advogados de Andreson alegavam que ele fazia jus ao benefício da prisão domiciliar humanitária.

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De acordo com o médico particular que examinou aquele que é considerado um “arquivo vivo” do esquema de venda de sentenças, Andreson Gonçalves tem complicações graves de diabetes, episódios recorrentes de diarreia e dor irradiada do peito para as pernas, ausência de reflexos profundos, depressão e risco de acabar em uma cadeira de rodas.

Parceiro do advogado Roberto Zampieri, assassinado em uma embocada no final de 2023, o empresário é peça fundamental nas investigações que indicam que servidores dos gabinetes dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nancy Andrighi, Og Fernandes, Isabel Gallotti e Paulo Moura Ribeiro vendiam decisões dos magistrados em troca de propina.

Funcionava assim: os comparsas do lobista alocados no tribunal encaminhavam antecipadamente o rascunho da sentença a ser corrompida e exigiam valores para que o magistrado assinasse a decisão oficial exatamente nos moldes encomendados pela quadrilha.

Nos mais de 3.500 arquivos de conversas da dupla Andreson-Zampieri, há relatos de extorsão, pressão por pagamentos em atraso e promessas de que casos milionários e complicados poderiam ser resolvidos de imediato mediante pagamentos por fora. São “espúrias negociações”, resumiu o ministro Zanin, responsável por relatar no STF múltiplos casos de venda de sentenças.

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