O advogado e escritor José Roberto de Castro Neves, 54 anos, mais novo na turma de imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), inclusive pela própria idade, tomou posse na cadeira 26, na sexta-feira, 11, na sucessão de Marcos Vilaça (1939-2025), morto em março. Muito bem relacionado, o novato possui currículo extenso. É professor de Direito Civil na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e na Fundação Getúlio Vargas (FGV); autor de 18 livros sobre história, literatura e direito, com vendas que totalizam cerca de 200 mil exemplares. É bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Direito pela Universidade de Cambridge e doutor em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Além disso, possui a maior biblioteca shakesperiana do país em sua casa no Jardim Botânico. Em seu discurso de posse, deu opiniões sobre o politicamente correto, e a importância da educação e cultura.
“A sociedade, tal como o rebanho, se divide e encontra a dificuldade de chegar a outras vias. A juventude é doutrinada a se hiper sensibilizar. Tudo ofende, dificultando o debate. Utiliza-se a ignorância como escudo. As palavras austerizadas ficam reféns do politicamente correto. Tudo a tolher a troca de ideias profundas. As imagens são deturpadas, já não podemos acreditar no que vemos. Um mundo regido por uma lógica utilitarista, apegado aos meios econômicos, que desconsidera outras formas de bem-estar, como a solidariedade, a filantropia e a educação humanística. (…) Ainda não conseguimos saber se as novas ferramentas nos libertam ou nos aprisionam. Para falar do mundo hoje, é fundamental distinguir dois conceitos: informação e cultura. Nunca vivemos com tanta informação. Entretanto, a informação hoje nos atropela. Ela chega sem ser procurada, pelas mídias mais diversas. As informações nos assaltam sem filtro, de forma desorganizada e incessante. Temos que nos educar a fim de distinguir de um lado a mera informação e de outro a cultura. Quem ensina fazer essa distinção é a própria cultura”.
Chamando o público presente à posse para ser responsável por uma mudança no hábito de leitura e acesso à cultura, José Roberto trouxe números que comprovam a alarmante falta de interesse por livros no país.”Sem massa crítica não se separa o joio do trigo. Entre as formas de assimilar cultura sobressai os livros. Assim hoje, a leitura se torna uma atividade ainda mais essencial, serve de guia, um mapa. Aí está o antídoto contra a overdose de informações inúteis. As pessoas pouco leem. O número de leitores do Brasil assusta. O Brasil perdeu leitores em comparação a 2019. Segundo se apurou, 73% dos brasileiros não chegaram a completar a leitura de nenhum livro no último ano. Estamos fora do eixo. Sem leitura, não discutimos o tesouro debaixo dos nossos pés”, disse ele, em seu discurso, bastante aplaudido.