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‘Canetas’ promovem perda de peso, mas também reduzem massa muscular: como contornar problema?

Na busca pela perda de peso, um ponto importante costuma passar despercebido: o que, exatamente, está sendo eliminado? Porque, junto com a gordura, o corpo pode acabar perdendo algo que realmente faz falta: massa muscular. Isso ocorre em várias estratégias de emagrecimento, inclusive com os chamados análogos de GLP-1, como a semaglutida (presente no Ozempic) e a tirzepatida (princípio ativo do Mounjaro), indicados para pessoas com diabetes e usados off label em pessoas com obesidade.

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“Qualquer perda substancial de peso, seja por cirurgia bariátrica, dieta combinada com exercício ou pelo uso das chamadas ‘canetas’, envolve também perda de massa magra”, diz o endocrinologista Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Essa perda, explica ele, é proporcional: quanto mais peso se perde, maior a perda muscular.

O problema é que, ao perder músculo – algo que não é exclusividade de pessoas magras ou que malham pesado – o corpo pode ficar mais vulnerável, tanto do ponto de vista metabólico quanto funcional. Isso significa maior risco de fraqueza, queda na densidade óssea e até dificuldades no controle da glicose no sangue, já que o músculo é responsável por cerca de 70% da captação de glicose. Em pessoas mais velhas, a situação pode ser ainda mais delicada, já que a perda muscular natural da idade (a sarcopenia) tende a se agravar.

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“Com os medicamentos, as pessoas perdem gordura, claro. Mas também perdem músculo. As coxas e os braços afinam, o bumbum diminui. O corpo fica mais leve, mas também mais frágil, menos funcional, metabolicamente mais vulnerável”, descreve o endocrinologista Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). 

A solução para isso, segundo Macedo, não tem segredo: é alimentação adequada e prática regular de exercícios físicos. Inclusive, um estudo apresentado no Congresso Americano de Endocrinologia (ENDO) de 2025, apresentou uma possível aliada para minimizar o problema: a proteína. A pesquisa sugere que aumentar a ingestão desse nutriente pode ajudar a reduzir a perda de massa magra durante o uso de agonistas do GLP-1. O estudo avaliou especificamente a semaglutida, princípio ativo dos medicamentos Ozempic e Wegovy.

Cconduzido por Melanie Haines, endocrinologista do Massachusetts General Hospital, a pesquisa teve participação de 40 adultos com obesidade e sem diagnóstico de diabetes tipo 2. Desses, 23 iniciaram tratamento com semaglutida e 17 participaram de um programa de perda de peso baseado em dieta e estilo de vida, ambos por um período de 12 semanas. 

Ao fim do período, o grupo tratado com semaglutida perdeu, em média, 6,3% do peso corporal, enquanto o grupo dieta perdeu 2,5%. No entanto, entre os que usaram a medicação, 47,5% do peso eliminado correspondia à massa magra, proporção maior que a observada no grupo dieta, de 37,5%.

Porém, depois que a ingestão de proteínas entrou em ação, os pesquisadores perceberam que ela funcionou como uma espécie de ‘papel protetor’: no grupo que usou semaglutida, a maior ingestão diária de proteína aos 3 meses foi associada a menor perda de massa magra. Já no grupo dieta, esse efeito foi observado apenas quando o consumo proteico era elevado no início do estudo, e não ao longo do acompanhamento. “Esses dados sugerem que um consumo mais alto de proteína pode ajudar a atenuar a perda de músculo durante intervenções para perda de peso”, afirmou Haines durante sua apresentação no ENDO 2025. 

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Medicamento não é ‘fórmula mágica’

Outra coisa observada pela pesquisa é que pessoas que praticavam atividade física, mesmo sob o uso da semaglutida, tiveram uma perda de músculo menor em relação a quem não praticava. Isso demonstra algo que Macedo acredita merecer atenção: sem mudanças reais no estilo de vida, não adianta. Além das consequências associadas a perda muscular, a ausência de alguns cuidados podem tornar o corpo suscetível a passar pelo famoso ‘efeito rebote’ assim que o remédio é suspenso. E a ideia não é ficar usando para sempre, mas chegar a um ponto de equilíbrio e manter os resultados com hábitos saudáveis.

“O corpo tem memória metabólica. E, sem exercício físico — especialmente musculação —, além de uma ingestão adequada de proteínas com comida de verdade, o desfecho tende a ser previsível: o ciclo de perda e reganho de peso, frequentemente chamado, de forma equivocada, de efeito rebote, sanfona ou iô-iô”, explica o médico.

Atualmente, não há consenso específico sobre a recomendação de ingestão de proteína para usuários de GLP-1. No entanto, diretrizes recentes, publicadas no Jornal da Associação de Medicina Americana (JAMA), sugerem iniciar cada refeição com 20 a 30 gramas de proteína. Para pessoas moderadamente ativas, o ideal é consumir entre 1 e 1,5 grama de proteína por quilo de peso corporal ao dia. “Se o apetite estiver muito reduzido, recomenda-se o uso de shakes com pelo menos 20 g de proteína por porção”, orienta o documento.

Antes de levar isso em consideração, é importante lembrar que precisa haver equilíbrio no consumo desse alimento. O excesso, especialmente proveniente de fontes animais, como a carne vermelha, pode estar associado a riscos como aumento da inflamação, problemas renais e cardiovasculares. Por isso, a recomendação é diversificar as fontes proteicas, incluindo vegetais, leguminosas, peixes e aves, e buscar orientação profissional para ajustar a alimentação às necessidades individuais, levando em conta mais do que apenas a perda de peso.

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