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Mudanças climáticas podem afetar calendário escolar no Brasil, aponta estudo

Dos mais de 26 milhões de estudantes brasileiros matriculados no ensino médio, 57,6% (15 milhões) estudam em escolas com baixa ou mínima resiliência a enchentes e 33,8% (8 milhões) em instituições não preparadas para seca.

As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores vinculados ao Observatório Nacional de Segurança Hídrica e Gestão Adaptativa (ONSEADAdapta) – um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com projetos apoiados pela Fapesp.

Alguns resultados do trabalho, em revisão, foram apresentados durante mesa-redonda sobre emergência climática e gestão adaptativa para segurança hídrica e redução de riscos de desastres na segunda-feira (14/07) durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento acontece até sábado (19/07) no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife.

“No ano passado, mais de 1 milhão de estudantes [do ensino médio] perderam aulas no Brasil por causa de eventos climáticos extremos de seca ou de enchentes”, disse Eduardo Mario Mendiondo, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) e um dos autores do estudo.

Os pesquisadores combinaram o Índice de Segurança Hídrica (ISH) – ferramenta utilizada para avaliar e monitorar a segurança hídrica no Brasil, considerando diferentes dimensões e riscos associados ao uso da água – com mapas georreferenciados para identificar escolas que vivenciam os impactos de extremos de seca e chuvas no país.

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Os resultados das análises indicaram que quase 5 milhões de estudantes, de acordo com o Censo Escolar de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão estudando em áreas com resiliência mínima a inundações no país e 10 milhões em regiões com baixa adaptação. E quase 1 milhão de estudantes brasileiros estão em áreas com resiliência mínima à seca, 4 milhões em áreas de baixa resiliência e 3 milhões nas de resiliência média, indica o estudo.

No ano passado, durante a seca severa que acometeu a região amazônica, onde estão situadas as bacias dos rios Trombetas e Madeira, muitos alunos não puderam frequentar a escola porque o nível da água ficou muito baixo para a navegação, exemplificam os autores do estudo.

Para lidar com os extremos de água na região, têm sido adotadas medidas recorrentes como arrecadar fundos para ajudar os alunos, tentar obter suprimentos de alimentos, comprar materiais escolares e ajudar a pagar professores e funcionários. Entre os meses de julho e novembro, os mais secos na região, os professores precisam flexibilizar o currículo.

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Com base nessas experiências, tem sido utilizado o termo “resiliência pedagógica” para descrever as práticas educacionais adotadas pelos professores na Amazônia a fim de lidar com as interrupções das aulas em razão da seca e das enchentes na região, apontam os autores do estudo. “Esse cenário pode causar sérios impactos na educação no Brasil. Por isso que na LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] é premissa mandatória, agora, a gestão de risco de desastres”, afirmou Mendiondo.

Gangorra meteorológica

De acordo com José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) que também integrou a mesa-redonda, os eventos extremos de seca são os que causam maiores impactos no Brasil. “As secas não são somente eventos meteorológicos, mas também socioeconômicos, porque afetam a economia e a sociedade como um todo. E é preciso lembrar que o Brasil é muito vulnerável a secas”, sublinhou.

Segundo o pesquisador, as áreas mais afetadas por secas no Brasil são a região Sul do Brasil, parte da Amazônia e o sul do Nordeste. Duração, abrangência e intensidade do fenômeno têm variado no país e em outras regiões do mundo. “Há secas de curto prazo, muito intensas e quentes. Também há as médias, que levam alguns meses, e as de longo prazo, que podem durar meses, estações ou anos, como a que vimos no Nordeste entre 2012 e 2018”, exemplificou.

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Uma das tendências verificadas com base nos dados meteorológicos obtidos nos últimos anos é que têm ocorrido no país e no mundo eventos extremos de chuvas concentradas em poucos dias. A precipitação intensa eleva os níveis de rios, causa transbordamentos – como ocorreu recentemente no Texas e no Rio Grande do Sul – e é seguida de períodos muito secos e longos, apontou Marengo. “Os extremos meteorológicos estão se tornando mais intensos. A onda de calor que vemos na Europa atualmente é um indicador disso”, avaliou.

A fim de monitorar a ameaça e os impactos de seca no país, o Cemaden começou a desenvolver em 2012, sob demanda do governo federal, um índice integrado de seca com informações para todos os municípios brasileiros. Mais recentemente, os pesquisadores começaram a fazer análises para áreas de agropecuária, assentamentos rurais e terras indígenas.

Impactos na saúde indígena

Na Amazônia, as secas que ocorreram na região em 2023 e 2024 também têm contribuído para induzir problemas de saúde mental nas populações indígenas, apontou Sandra Hacon, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP-Fiocruz), em outra mesa-redonda sobre saúde e mudanças climáticas. “Hoje as populações indígenas têm muito medo e ansiedade em relação aos rios”, apontou Hacon.

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A poluição dos rios pelas queimadas na região também tem afetado a saúde das populações indígenas, apontou a pesquisadora. Em razão da deposição de material particulado das emissões atmosféricas nas águas dos rios da Amazônia, os indígenas passaram a evitar beber a água dessas fontes. “Isso pode levar a quadros muito graves de desidratação”, afirmou a pesquisadora.

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