François Bayrou é um político sem charme – e também sem muito futuro. Mas reconheça-se que assumiu o papel de implantar medidas impopulares, como suprimir dois feriados nacionais e congelar reajustes na aposentadoria, entre outros benefícios que passariam um ano “em branco”, em 2026.
“É preciso trabalhar mais, que toda a nação trabalhe mais para produzir e que a situação na França melhore”, disse ele, desafiando atitudes profundamente arraigadas, como sacrossantos direitos a férias e feriados, embora haja um certo exagero quando se sugere que os franceses sofram de laborfobia, mesmo diante da nova argumentação do governo, a de que trabalham em média cem horas a menos por ano do que os alemães.
Bayrou, o ex-professor de história que pertence a um partido centrista integrante da coalizão de governo que elegeu Emmanuel Macron presidente duas vezes, sugeriu que sejam eliminados os feriados da segunda-feira de Páscoa, a chamada Pascoela, uma tradição quase inexistente em outros países, e do 8 de maio, quando se comemora o fim da II Guerra Mundial na Europa.
A profusão de feriados torna o mês de maio o mais improdutivo da França. Este ano, por exemplo, três feriados caíram na quinta-feira – Primeiro de Maio, Dia da Vitória e Ascensão. Com a ponte e os fins de semana, houve catorze dias de folga. É, obviamente, insustentável. Ao todo, há onze feriados por ano na França (doze no Brasil). Quando o feriado cai no meio da semana e é emendado, o processo é chamado de viaduto.
OPOSIÇÃO IRRESPONSÁVEL
Mas falar em cortar feriados provoca, também por motivos óbvios, reações extremas, inclusive entre a oposição que desfruta a maior vantagem de não estar no governo – a de ser irresponsável e não ligar a mínima para manter ou aumentar despesas.
Bayrou enfrenta um desafio comum a muitos governos, o endividamento, e a necessidade de equilibrar as contas, sem o recurso autodestrutivo do aumento de impostos. Nada que não esteja sendo discutido no Brasil, com a diferença que nos países avançados os problemas básicos já foram resolvidos.
Em alguns casos, até excessivamente resolvidos, com a multiplicidade de benefícios funcionando como um fator de desincentivo para o trabalho com remuneração mais baixa. No Reino Unido, por exemplo, quem recebe o facilmente obtido benefício por doença e tem filhos, ganha até 14 mil libras a mais por ano do que um trabalhador com salário mínimo, Adivinhem o que muitas pessoas escolhem.
O ciclo torna-se vicioso: empresas não conseguem preencher vagas, governos aumentam impostos para manter o estado de bem-estar social e a economia perde fôlego. A longo prazo, é uma receita tóxica, considerando-se inclusive o encolhimento populacional e o aumento de demandas decorrente da entrada maciça de estrangeiros.
A dívida pública também atinge níveis insustentáveis. Na França, está em 3,4 trilhões de dólares, ou 114% do PIB, um nível que Bayrou comparou ao da Grécia antes da grande derrocada (a proporção também cresceu no Brasil, para um nível de 76%). O limite estabelecido pela União Europeia é de 60%.
‘ATAQUE CONTRA A HISTÓRIA’
O plano de Bayrou não tem invencionismos: aumentar a produtividade e congelar benefícios e abatimentos nas aposentadorias mais altas em 2026, além de não subir os gastos do governo, exceto para a defesa. Como de cada três eleitores franceses, um é aposentado, imagine-se as consequências.
Macron já está no segundo mandato e não pode mais disputar a presidência, mas vai fazer tudo para não arruinar seu legado com a eleição de um candidato da direita pura e dura – com Marine Le Pen tornada inelegível, o nome na disputa seria a de seu jovem protegido, Jordan Bardella.
Previsivelmente, Bardella denunciou a diminuição dos feriados como “um ataque contra nossa história, nossas raízes, e contra a França que trabalha”.
Não é possível prever um futuro muito brilhante para o racional e relativamente pouco ambicioso plano de Bayrou. Se ele sofrer um voto de não-confiança, Macron vai ter que trocar de primeiro-ministro pela sexta vez. E os problemas do país continuarão, não do mesmo tamanho, mas cada vez maiores. Não tem feriadão que dê jeito nisso.