O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que a Coca-Cola trocará xarope de milho por açúcar de cana na receita da versão americana do famoso refrigerante. O anúncio foi feito na plataforma Truth Social na terça-feira 15.
“Conversei com a Coca-Cola sobre o uso de açúcar de cana de verdade nos Estados Unidos, e eles concordaram”, afirmou o mandatário. “Será uma ótima decisão por parte deles. Vocês vão ver. É simplesmente melhor”.
Ao contrário do que acontece em países como Brasil e México, que utilizam a sacarose (açúcar de cana) em sua fórmula, a versão americana do produto é adoçada por xarope de milho rico em frutose – em inglês High-fructose corn syrup, ou simplesmente HFCS. Ambas as substâncias são compostas por glicose e frutose, porém com diferenças na estrutura.
O HFCS é alvo da comissão Make America Healthy Again, ou MAHA (“torne a América saudável novamente”, em tradução livre, inspirado no slogan trumpista Make America Great Again), do secretário de saúde Robert F. Kennedy Jr., que liga o ingrediente a uma série de problemas de saúde. De acordo com o portal oficial da Casa Branca, o MAHA tem a responsabilidade de “investigar e abordar as causas básicas da crescente crise de saúde nos Estados Unidos, com foco inicial em doenças crônicas infantis”.
Em uma primeira manifestação, a Coca-Cola agradeceu o interesse de Trump pela bebida, afirmando que em breve irá compartilhar “mais detalhes sobre as novas e pioneiras ofertas” de sua linha de produtos, mas sem confirmar qualquer alteração na fórmula do refrigerante.
No entanto, outra declaração, feita nesta quinta-feira, 17, defendeu o uso do HFCS. “O xarope de milho rico em frutose é, na verdade, apenas um adoçante feito de milho”, disse a multinacional. “Ele é seguro, tem aproximadamente o mesmo número de calorias por porção que o açúcar de mesa, e é metabolizado de maneira semelhante.”
A Coca-Cola também disse que a Associação Médica Americana (AMA) confirmou que não é provável que o ingrediente contribua mais para a obesidade que o uso de outros adoçantes de calorias integrais. “Por favor, tenham certeza de que os refrigerantes da marca Coca-Cola não contêm substâncias nocivas”, finaliza o comunicado.
Nos Estados Unidos, a empresa já vende uma versão de seu refrigerante que utiliza a cana-de-açúcar como adoçante. Chamada de MexiCoke – Cola-Cola Mexicana –, a versão é aclamada pelos fãs por ter um sabor mais “natural”.
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Milho ou cana-de-açúcar?
O uso de xarope de milho como adoçante se tornou popular nos Estados Unidos por volta dos anos 1970, motivado pelas altas tarifas à importação de açúcar de cana e pelos subsídios governamentais dados aos produtores de milho americanos.
Isso torna uma possível mudança bastante complexa. Qualquer alteração na fórmula da Coca-Cola certamente trará reações da indústria do milho – que inclui fiéis apoiadores de Donald Trump.
O Corn Belt (cinturão do milho), uma zona produtora do insumo no meio-oeste americano, viu expressiva votação no republicano durante as eleições presidenciais, e sofrerá impactos econômicos em caso de redução ou remoção do xarope de milho do refrigerante.
“Substituir o xarope de milho rico em frutose por açúcar de cana custaria milhares de empregos na indústria alimentar americana, deprimiria a renda agrícola e aumentaria as importações de açúcar estrangeiro, tudo sem benefício nutricional”, afirmou o presidente e CEO da Associação das Refinarias de Milho, John Bode.
Em caso de mudança, o mercado de refrigerantes americano, que vale em torno de US$ 285 bilhões, pode sofrer graves implicações comerciais.
