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‘Eu nem tento entender Twin Peaks’, diz ator da série a VEJA

Dana Ashbrook tinha apenas 21 anos quando começou a gravar a série Twin Peaks(1990) interpretando o personagem Bobby Briggs, o jovem problemático que namorava Laura Palmer, encontrada morta logo no primeiro episódio. Na época, ele não podia imaginar que a produção assinada por David Lynch seria um sucesso mundial. Ashbrook também não imaginava que voltaria a interpretar Bobby Briggs na maturidade, no reboot de 2017 — e que, até hoje, aos 58, daria entrevistas falando desse fenômeno televisivo. Em uma conversa via Zoom com a reportagem de VEJA, o ator relembrou como foi fazer parte daquele set, do dia em que conheceu Lynch e como não faz questão de tentar entender os mistérios da série, que recentemente chegou completa à plataforma Mubi. Confira a conversa:

Como foi crescer junto com o Bobby Briggs, interpretando o personagem em momentos diferentes da vida? Foi ótimo e estranho ao mesmo tempo, porque simplesmente aconteceu. Muitos programas estão voltando, os canais fazem reboots, remakes e tal. Mas, sabe, voltar para Twin Peaks me parecia improvável, mas, quando aconteceu, pareceu natural. Como se nunca tivéssemos saído do set.

Dana Ashbrook, Madchen Amick e Kyle MacLachlan no lançamento da terceira temporada de Twin Peaks, em 2017 -
Dana Ashbrook, Madchen Amick e Kyle MacLachlan no lançamento da terceira temporada de Twin Peaks, em 2017 –Eric Charbonneau/Getty Images

Twin Peaks é uma série de tons surreais e fez muito sucesso. Enquanto vocês estavam gravando, rolava alguma sensação do tipo: “Isso aqui é maluco demais, ninguém vai assistir”? Naquela época, acho que ninguém ficava pensando nisso. Se havia algo estranho acontecendo, pois estávamos imersos naquilo. Nem parecia tão estranho. Depois que você assiste, pensa: “meu Deus, que negócio engraçado!”. Em uma cena tem a obsessão por cortinas que não fazem barulho, depois tem a mulher do tronco. Tinham muitas coisas esquisitas e excêntricas, mas aquilo era também encantador e engraçado quando a gente lia o roteiro. Na real, nunca pareceu tão estranho pra mim. Talvez porque eu seja um pouco mais esquisito que a maioria.

É algo a se pensar. Mas sério. Eu sempre estava na parte mais “normal” da série. O Bobby nunca se envolvia com esses personagens mais exóticos. A coisa mais estranha que aconteceu com ele foi o pai dele aparecer totalmente vestido com um uniforme de piloto da Primeira Guerra Mundial, ou algo assim. Mas o Bobby nunca se metia nas coisas mais bizarras. Ele só queria passar tempo com a Shelly, com a Laura, com quem fosse.

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Existem muitas teorias e análises sobre Twin Peaks. Você entende de fato o que aconteceu na trama? Não, não. Nem tento entender. Deixo isso para os fãs. A gente participa de painéis, encontros e tal, e tem gente que estudou o programa na escola, na faculdade. E olha, tenho que dizer: essas pessoas sabem mais sobre o programa do que eu. Muito mais. Me contam coisas que eu não me lembro. Às vezes vejo algo e penso: “Como não me lembro desse dia?”. Eu estou na cena, mas não lembro de estar lá, nem das falas, nem do que aconteceu naquele dia. É bizarro. Me sinto como um viciado, sem memória. É muito estranho.

Talvez sua experiência com a série esteja mais ligada à forma onírica e surreal do programa, né? Sim. Era mesmo um sonho.

O elenco ainda se fala? Sim! Nunca perdemos contato. Com a chegada dos celulares ficou mais fácil. Trocamos mensagens sempre. É uma família.

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Tem um grupo de mensagens, tipo WhatsApp? Temos, sim. Chama “Twin Peaks Family”. Surgiu na época dos incêndios em Los Angeles. Um amigo nosso, Carl, teve a casa queimada, então todo mundo entrou num grupo para ajudar. Depois disso, acabamos mantendo.

E isso foi bem antes da morte de David Lynch. Sim, bem naquela época. Ele foi evacuado da casa, lembro disso. Menos de uma semana antes de falecer, acho. Ele voltou pra casa depois, e por sorte não pegou fogo.

Como foi trabalhar com ele? Ele é, com certeza, um dos maiores cineastas artísticos da história. Com certeza. E eu tive muita sorte de cruzar com ele. Uma amiga nos apresentou. A gente se deu bem de cara. Ele era uma pessoa muito legal, rimos bastante juntos. Ele manteve essa amizade comigo ao longo dos anos. Mesmo quando eu morava em Nova York, ele teve uma exposição de arte lá e me convidou. Quando voltei para Los Angeles, há alguns anos, conseguia tomar café com ele de vez em quando, o que era ótimo. Eu valorizo muito esses momentos hoje. Foi maravilhoso. Tive muita sorte de poder trabalhar com ele. Foi um baita privilégio.

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