Praticamente ausente do novo governo de Donald Trump, a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, voltou aos holofotes nesta semana de maneira inusitada. Depois de seu marido sugerir que ela estava por trás de sua aparente mudança de opinião em relação à Rússia, levando à ameaça de taxar o país em até 100% caso a guerra na Ucrânia não termine em 50 dias, a mulher que, tirando um discurso aqui e ali e entrevista ensaiada, raramente pronuncia palavra em público ganhou fama de heroína. Ao menos é o que aparenta a profusão de memes compartilhados por ucranianos nas redes sociais.
Um perfil no X (antigo Twitter) postou uma foto de Melania na cerimônia de posse de Trump, em janeiro deste ano, em que veste um terninho e chapéu de abas largas, cobrindo quase totalmente seu rosto. No blazer, adicionou a insígnia do tridente ucraniano, e o look geral dá a impressão de que a primeira-dama está trabalhando disfarçada dentro da Casa Branca, para benefício de Kiev. A legenda: “Agente Melania Trumpenko”.
Agent Melania Trumpenko pic.twitter.com/rVzf6tJfvJ
— Kate from Kharkiv (@BohuslavskaKate) July 14, 2025
A revista Business in Ukraine observou que “há muito amor nas redes sociais nesta noite por Melania Trump”, logo após o anúncio de que os Estados Unidos enviariam mais sistemas de defesa aérea Patriot para o país se defender de bombardeios russos.
A publicação reproduziu ainda um meme antigo, com três criaturas usando capacetes e quepes militares, imagem que costuma ser usada para se referir a um político ou celebridade ocidental que apoia ou é amigo da Ucrânia. As criaturas dão a Melania um chapéu decorado com uma bandeira ucraniana.
Trump’s wife Melania unexpectedly becomes an ally for Ukraine in the White House, — The Time
“Melania’s sympathies for Ukraine are not surprising, because she grew up in the former Yugoslavia, where Russia was never loved,” the publication notes that the US first lady… pic.twitter.com/zmIjuDCZOB
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MilitaryNewsUA
(@front_ukrainian) July 15, 2025
Outro meme mostra a primeira-dama em pé atrás do marido no Salão Oval, enquanto ele assina um decreto presidencial. A legenda diz: “Irmã Melania da Bene Gesserit” – uma referência à poderosa irmandade secreta que opera para influenciar a política no universo do livro Duna, de Frank Herbert, que virou filme protagonizado por Timothée Chalamet.
Sister Melania of the Bene Gesserit https://t.co/qBCqlfjnoe pic.twitter.com/I9nV9MDwXj
— Luiz (@AWeirdPhysicist) July 14, 2025
A chuva de memes começou depois de uma reunião na Casa Branca, na segunda-feira 14, entre Trump e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte. Na ocasião, o presidente americano disse que sua esposa desempenhou papel fundamental em apontar a duplicidade de Vladimir Putin.
“Minhas conversas com ele (Putin) são sempre muito agradáveis. Eu penso, não é uma conversa adorável? E então mísseis explodem naquela noite”, afirmou. “Vou para casa e digo à primeira-dama: Falei com Vladimir hoje. Tivemos uma conversa maravilhosa. Ela diz: Sério? Outra cidade acaba de ser atingida.”
Melania, nascida em 1970 na Eslovênia, ainda parte da Iugoslávia comunista, já deu indícios de ser uma apoiadora mais firme da Ucrânia do que o cético marido, que em fevereiro deste ano chamou o presidente Volodymyr Zelensky de “ditador” e transformou uma reunião com ele na Casa Branca em sessão de humilhação pública. Logo após a invasão russa do país vizinho em fevereiro 2022, ela apelou aos seus seguidores nas redes sociais para doarem para a Cruz Vermelha, dizendo que era “de partir o coração e horrível ver pessoas inocentes sofrendo”.
De acordo com a própria primeira-dama, não seria a primeira vez que ela teria influenciado as ações do marido no Salão Oval. Nos idos de 2018, no auge de uma crise migratória que manchou o primeiro mandato de Trump devido a uma política de separação de crianças migrantes de seus pais, ela o teria convencido a mudar a regra, segundo escreveu na autobiografia Melania, publicada no fim do ano passado. “Isso tem que parar”, teria dito a ele, “enfatizando o trauma às famílias”.