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MBL cria marca lucrativa e se prepara para estrear o próprio partido político

No final de 2014, quando multidões tomavam as ruas para pedir o impeachment de Dilma Rousseff, mas também protestar contra o sistema, os partidos e “tudo o que está aí”, um bando de jovens com cara de recém-saídos do ensino médio chamava atenção pela organização. Pouco mais de uma década depois, o Movimento Brasil Livre (MBL) se profissionalizou e entrou no sistema: elegeu parlamentares e criou uma marca que estampa todo tipo de suvenir, um curso de formação para militantes e até uma revista, a Valete, por meio da qual tenta difundir sua ideologia “conservadora nos costumes” e “liberal na economia”. Agora, atingiu novo estágio: está a um passo de entrar oficialmente na política partidária.

Não é simples fundar um partido — isso não acontecia desde 2019, quando o Unidade Popular foi criado. Jair Bolsonaro tentou criar o seu, o Aliança pelo Brasil, mas, apesar da aguerrida militância que tem, não conseguiu nem a metade do apoiamento mínimo exigido. O número é de 0,5% dos votos válidos dados à Câmara, hoje cerca de meio milhão de brasileiros com título em dia e sem filiação partidária. A janela de oportunidade para o MBL se abriu neste mês, quando o movimento alcançou o número mínimo de apoiamento de eleitores para pleitear o registro de seu próprio partido.

Batizada de Missão, a nova sigla tinha, até quinta-feira 10, mais de 500 000 endossos de brasileiros validados pelo Tribunal Superior Eleitoral. O grupo ainda precisa cumprir algumas etapas burocráticas, mas não só se organiza para aparecer nas urnas em 2026, como já teria até um pré-candidato a presidente: Danilo Gentili. A ideia já havia sido ventilada pelo MBL em 2021, quando o nome do humorista foi testado em pesquisas internas. A iniciativa foi abandonada em 2022, mas pode ser ressuscitada no ano que vem.

O MBL aguarda agora a Justiça Eleitoral bater a última martelada para a Missão se oficializar. Legalizada, a sigla passaria a ter direito ao Fundo Eleitoral, que no Brasil é um dinheiro nada desprezível — o Unidade Popular, que nunca elegeu ninguém, levou 3,4 milhões de reais na eleição de 2024. Se tiver desempenho eleitoral acima da cláusula de barreira, poderá aumentar esse valor e até receber o Fundo Partidário, destinado a financiar os custos administrativos das legendas. De quebra, o MBL poderá ganhar algo valioso para alavancar a comunicação, um dos pilares da estratégia política do grupo: tempo gratuito no rádio e na TV.

CRUZADA - Amanda Vettorazzo mostra revista com Oruam: ofensiva pelo país
CRUZADA - Amanda Vettorazzo mostra revista com Oruam: ofensiva pelo paísLucas Bassi/Câmara Municipal de São Paulo/.
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O movimento feito pelo MBL surpreende porque vai na contramão do momento político do país. Levantamento feito por VEJA mostra que a cláusula de barreira tem forçado, por meio de incorporações, fusões ou federações, a redução do total de partidos — embora o país tenha 29 siglas registradas (a Missão será a 30ª), só dezoito ocupam cadeiras no Congresso, o menor número desde 1994. “Países livres têm muitos partidos. PP, União Brasil, PL não são partidos. Não têm posicionamento, não têm programa, não têm formação de base, não têm causa”, afirma Renan Santos, outro fundador do grupo e futuro presidente do novo partido.

A trajetória curta do MBL foi pontuada por polêmicas. Um dos nomes mais populares lançados pelo grupo, o youtuber Arthur do Val, o Mamãe Falei, foi eleito deputado estadual em São Paulo e cassado por declarações sexistas sobre mulheres na guerra da Ucrânia. Em 2020, a Operação Juno Moneta, do Ministério Público, fez busca e apreensão na sede do MBL em São Paulo e prendeu dois empresários ligados ao grupo. Renan Santos, o futuro cacique da Missão, foi investigado e chegou a ser denunciado pelo uso de laranja para lavar dinheiro de negócios da família — a denúncia foi arquivada em 2023.

Ao longo de sua curta história, o MBL colecionou brigas com a direita. Apoiou Jair Bolsonaro em 2018, depois pediu o seu impeachment e embarcou na candidatura furada de Sergio Moro ao Planalto em 2022. Agora, dedica-se a uma ofensiva moralista pelo país para aprovar projetos contra aborto, drogas e músicas que exploram sexo e violência, no que ficou conhecido como “Lei Anti-­Oruam”, em referência ao trapper Oruam. Cria do MBL, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo (União Brasil) reuniu vereadores de direita de todo o país em São Paulo este ano para apresentar um pacote de vinte projetos de lei, divididos em três “eixos de combate” (cultural, econômico e estrutural), com o intuito de que sirvam de modelo para os colegas espalharem as iniciativas. Como se vê, caso consiga mesmo se viabilizar como partido, o MBL deve fazer na política o mesmo barulho que atraiu holofotes ao movimento nas ruas no passado.

Publicado em VEJA de 11 de julho de 2025, edição nº 2952

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