A decisão do presidente dos Estados Unidos de elevar para 50% as tarifas de produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos é considerada um marco histórico por especialistas ouvidos por VEJA.
Mestre em Relações Internacionais pela USP, o professor Guilherme Meireles afirma que uma incursão norte-americana dessa magnitude em assuntos nacionais não acontecia há pelo menos meio século. “Não víamos nada parecido com isso desde os anos 60, quando os americanos intervieram diretamente no País para apoiar o golpe militar”, diz ele.
O mais curioso, segundo o professor, é que, tecnicamente, a tarifação anunciada pela Casa Branca nada tem a ver com estratégia econômica. O presidente americano estaria apenas tentando influenciar no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. “O Brasil não pode permitir que nossa soberania seja violada”, afirma.
Ex-ministros condenam decisão de Trump e pregam negociação
Ministro da Agricultura no primeiro mandato de Lula, Roberto Rodrigues adverte para as consequências que essa tarifação, se mantida, poderá provocar em alguns setores da economia. Ele, porém, diz que o melhor agora é sentar e negociar com os americanos. “A vertente econômica implica prejuízos comerciais para o setor privado brasileiro. E o argumento do presidente Trump é frágil porque temos déficit comercial com os EUA. A única providência a se tomar agora é negociar. Temos um prazinho para isso”, diz.
O economista e ex-ministro Reinhold Stephanes vai na mesma linha. Lembra, no entanto, que a taxação às exportações brasileiras afetará também a economia norte-americana. “É bom lembrar que a alta das tarifas vai prejudicar muito o mercado dos Estados Unidos, provocando aumento dos preços do café e carnes, por exemplo, e resultando em alta da inflação por lá”, adverte.
Stephanes, que comandou o Ministério da Agricultura no segundo governo de Lula, atribui uma parcela de responsabilidade pelo tarifaço ao presidente e à política externa do país adotada pela atual gestão. “O Lula faz ataques ao Trump, com termos que não deveriam ser utilizados por um estadista, um presidente da República”, diz . “Ultimamente nossa política externa está se desviando do caminho histórico da política bem sucedida do Itamaraty”, acrescentou.