Com o avanço de doenças transmitidas por mosquitos, principalmente o Aedes aegypti, fora do eixo com clima tropical (e subtropical), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quinta-feira, 10, o lançamento do primeiro documento com diretrizes globais para quatro arboviroses que crescem no mundo: dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Segundo a entidade, mais de 5,6 bilhões de pessoas estão em risco de infecção pelo que classifica como ” uma ameaça crescente à saúde pública”.
Essas doenças foram escolhidas por serem as que mais afetam os seres humanos e estão se espraiando não só pelo aumento da circulação de pessoas por diferentes áreas do globo, mas pelas mudanças climáticas, que favorecem a proliferação de mosquitos transmissores de doenças.
Com 125 páginas, a diretriz é voltada para profissionais de saúde e aborda as condutas que devem ser adotadas diante de pacientes com quadros leves, com sinais de alerta e quando a doença causa sintomas graves que podem demandar hospitalização e até levar à morte.
A elaboração das orientações foi feita por um grupo de especialistas de países como França, Alemanha, Estados Unidos, Índia, Tailândia e Etiópia. O médico infectologista Kléber Luz, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), representou o Brasil.
“As mortes por arboviroses são evitáveis, porque é possível evitar as complicações ligadas a essas doenças, mas é fundamental o treinamento das equipes”, disse a VEJA. “Já temos transmissão na Europa e isso não é uma preocupação por serem países ricos, e sim porque as pessoas não estão capacitadas para cuidar de infecções como a dengue.”
Segundo Luz, o documento vai ajudar os países na elaboração de suas ações de combate às doenças transmitidas por mosquitos, evitar o uso de tratamentos sem comprovação científica e conscientizar a população.
“A partir de agora, ele vai funcionar como um documento de base para quando um país for elaborar guias que terão efeito sobre médicos, universidades e para órgãos de saúde se comunicarem com a população.”
Como lidar com a dengue e doenças transmitidas por mosquitos?
Dengue, zika, chikungunya e febre amarela são doenças desafiadoras para a saúde pública. Nem sempre o diagnóstico é fácil pela similaridade dos sintomas, especialmente as três primeiras. Outro problema é que não há um tratamento para combater a ação do vírus no organismo.
A medida mais importante é hidratar os pacientes para evitar episódios de desidratação. Para controlar a dor e febre, é recomendado administrar paracetamol e dipirona. Anti-inflamatórios não esteroides, como aspirina (AAS), ibuprofeno e diclofenaco devem ser evitados.
Corticoides, imunoglobulinas e transmissão de plaquetas não são indicadas pela OMS. No caso da febre amarela, tratamentos com imunoglobulina monoclonal e o medicamentos sofosbuvir (indicado para hepatite C) só podem ser considerados em cenários de pesquisa clínica.
“Ele ratifica a necessidade de hidratação dos pacientes e contraindica remédios sem valor. Não tem tratamento milagroso para essas doenças”, explica Luz.
Segundo a OMS, o documento também pode ser usado para preparação de planos para epidemias e com aplicação “em todos os níveis do sistema de saúde, incluindo atendimento comunitário, atenção primária, pronto-socorros e enfermarias”.