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Por que uma boa história pode transformar vidas

Você tem em mãos um tesouro milenar incomensurável: histórias de diversas épocas e cantos do mundo que pesquisei profundamente em centenas de livros, além de tê-las ouvido diretamente da boca de exímios contadores de histórias, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Passei décadas reunindo essas narrativas e, agora, as conto para você à minha maneira, como sempre fizeram os antigos. Afinal, quem conta um conto aumenta um ponto. Mas por que contar, ouvir e se deixar transformar pelas histórias em pleno século XXI?

As histórias revelam o que muitas vezes não pode ser dito de outra forma. A verdade nua e crua é, por vezes, insuportável, e por isso recorremos à ficção, às histórias, para falar sobre as verdades universais. A verdade vestida de narrativa pode se aproximar mais dos seres humanos, a deixamos entrar em nossa vida e sem nem perceber lá está ela nos ensinando e fascinando. Não é à toa que os maiores líderes espirituais de todos os tempos contavam histórias. Jesus de Nazaré, por exemplo, transformou doze simples pescadores em apóstolos através de parábolas. E, falando da Bíblia, o rei Salomão teria dito que a parábola é tão poderosa que, como uma pequena vela, pode iluminar uma enorme caverna escura. Histórias iluminam a nossa vida! Buda, Maomé, Gandhi – todos contavam histórias. Grandes líderes militares, políticos e empresariais também: Napoleão, Martin Luther King, Steve Jobs… As histórias movem o mundo!

As histórias podem mudar de roupagem, mas estão sempre ao nosso redor. Por que você acha que os streamings fazem tanto sucesso? E os videogames, que são formatados como narrativas? E as letras de músicas? E as fofocas? Você gosta de ouvir ou contar uma? Se disser que não, não sei se acredito. É como a minha mãe. Ela é a pessoa menos fofoqueira que conheço na vida, nunca, mas nunca mesmo, me contou qualquer fofoca, sendo uma excelente confidente. Mas quando quero contar uma fofoca para ela, por mais que ela peça para não o fazer, quando começo, ela presta uma atenção danada. Segundo grandes estudiosos da cultura humana, as fofocas moldaram o mundo, promovendo a aproximação e a cooperação essenciais para a sobrevivência dos grupos. Unidos venceremos.

Histórias para guiar a sua jornada

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Em épocas sem terapeutas, psiquiatras, neurolinguistas, Lexotan, Rivotril e Prozac, a narrativa ficcional era o mais potente remédio para a alma, o autoconhecimento e a compreensão da dinâmica social e particular. A história é um grande espelho do nosso mundo interior, e assim continua sendo. Um dos maiores exemplos dessa potência narrativa está no famoso livro As mil e uma noites, em que um sultão psicopata resolve casar todas as noites com uma jovem virgem e depois a matar. Ele é curado por uma das mais célebres contadoras de histórias de todos os tempos: Sherazade. O método dela para salvar o próprio pescoço e o das outras jovens era começar a contar uma história à noite e não a terminar. O sultão ficava curioso e esperava a noite seguinte para ouvir a continuação, como eu esperei por anos pelas novas temporadas de Game of Thrones. Assim foram se passando as noites, e o sultão acabou se curando e se casando com sua narradora preferida.

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O encontro do ser humano com as histórias deve começar o quanto antes e continuar até o seu último suspiro. Câmara Cascudo, o mais conhecido folclorista brasileiro, chamava essas histórias para a infância de “leite simbólico”, pois elas alimentam a infância de forma única e marcante. Sem dúvida nenhuma: histórias alimentam! Histórias nos despertam para um mundo desconhecido de emoções e reflexões.

Uma ferramenta tão robusta como a história, que sobreviveu a guerras, cataclismas, perseguições políticas e religiosas, é essencial nos dias atuais, em que a fragilidade humana nunca foi tão evidente. As redes sociais vêm fragmentando as narrativas: elas não têm mais começo, meio e fim. É por isso que ficamos horas diante das telas, rolando sem parar e perdendo tempo sem nada fixar em nosso coração e mente. Está cientificamente comprovado que o cérebro humano precisa de narrativas com começo, meio e fim! A história fortalece a mente, orienta, guia, aconselha, costura emoções despedaçadas, nomeia sentimentos obscuros, proporciona um prazer intenso e duradouro, ancora nossa existência, enfim, dá sentido à nossa vida.

Um conselho para você, leitor, independentemente de quem seja: professor, empresário, balconista, médico, jardineiro, bombeiro, pai, mãe, avó… As histórias são inesquecíveis. Se você as contar para as pessoas, elas provavelmente nunca mais vão lhe esquecer. Por isso elas são um tesouro! Elas criam memórias positivas!

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Como disse anteriormente, estas histórias vêm de tradições milenares, quase todas de autores anônimos, histórias construídas coletivamente e que se misturam com outras narrativas e culturas. O que me fascinou nesses anos de pesquisa e narração de histórias de diferentes épocas e lugares foi a similaridade entre algumas histórias de culturas distantes. Uma história narrada na Turquia pode se assemelhar a outra narrada no Japão. E o curioso é que cada país ou região jura de pé junto que a narrativa nasceu em seu quintal. Isso diz muito sobre a força da história: ela pertence tanto a quem a conta quanto a quem a ouve. Elas são parecidas em todos os cantos porque somos mais parecidos do que imaginamos; temos anseios, temores, sonhos e desejos semelhantes, embora sejamos únicos. Uma boa história atua nessa dualidade.

Passei anos contando histórias em vários cantos do Brasil e do mundo: num trem em movimento, em casamentos, em espaços educativos e hospitalares, num estádio de tourada em uma cidade no interior da Colômbia, em sacadas medievais em Tenerife, nas Ilhas Canárias, no meio do Oceano Atlântico. Contei histórias para bebês, crianças em quimioterapia, jovens, adultos de todas as profissões, desde altos executivos até pescadores artesanais. Todos esses momentos foram de intenso impacto, gerando um silêncio profundo, risadas, lágrimas e expressões de “Eureka!”. A proposta deste livro é tentar ao máximo passar essa vibração da oralidade para que você leia como se eu estivesse sussurrando a narrativa para você, querido leitor.

As histórias são tão incríveis e surpreendentes que se escondem em todo lugar, não apenas nos livros e na boca das pessoas. As palavras têm histórias; a etimologia, que estuda as origens das palavras, revela o verdadeiro sentido de cada uma. Até o seu nome tem uma história. Você sabe o significado do seu nome? Sabe por que ele foi escolhido?

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Voltando à Bíblia, uma fonte imensa de narrativas, os nomes que lá se encontram têm histórias lindas e curiosas por trás. Por exemplo, Abraão significa em hebraico “pai dos povos”, e assim ele foi. Sara, sua mulher, significa “princesa”. Sara, já com mais de 90 anos, descobre que irá engravidar e ri muito ao ouvir essa “fofoca”. E, como sabemos, ela engravidou. O nome do filho, Isaac, significa “aquele que riu”.

Bonito, não é? Mas não acabou. Isaac se casa com Rebeca, “aquela que une, que prende”. Ela engravida de gêmeos, e reza a lenda que houve uma briga, um MMA entre os irmãos para ver quem nasceria primeiro para garantir a primogenitura e seus benefícios. O gêmeo mais forte começou a sair da barriga da mãe e ele era todo peludo, estilo Tony Ramos de ser. O nome dele, lembra qual é? Esaú, cujo significado é “peludo” – esse significado foi pouco criativo. O outro gêmeo, vendo sua primogenitura indo para o beleléu, agarrou o calcanhar do Esaú para ver se dava uma “chave de perna”, mas não adiantou, ele era mais fraco e veio ao mundo agarrado ao calcanhar do irmão. Qual o nome dele? Jacó, cujo significado é “aquele que segura o calcanhar”. Vou parar por aqui senão a empolgação toma conta e são milhares de nomes. Para os curiosos é só pesquisar.

Ao escrever este livro, decidi separar as histórias em temas universais que estão sempre presentes em nossa vida e estarão na vida de nossos filhos, netos, bisnetos…

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Boas histórias, boas reflexões e, principalmente, uma boa vida para todos

* Ilan Brenman é autor de Histórias para guiar a sua jornada, que acaba de ser publicado pela editora Vestígio 

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