O número de mortos pelas enchentes no Texas subiu para 119 nesta quarta-feira, 9, enquanto equipes de resgate seguem nas buscas por desaparecidos. Entre as vítimas, estão mais de 40 crianças — muitas delas faziam parte cristão Camp Mystic, exclusivo para meninas, que ficava às margens do rio Guadalupe. Trata-se de uma das inundações mais letais da história do estado, no sul dos Estados Unidos.
A inundação no estado ocorreu após fortes chuvas levarem ao transbordamento do Guadalupe, cujo volume de água subiu em 9 metros em duas horas, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS, na sigla em inglês). A maior parte das vítimas das inundações relâmpago da última sexta-feira, 4, estavam na cidade de Kerrville, na região ribeirinha de Hill Country.
O rio, transformado pelas chuvas torrenciais em um caudaloso e furioso corpo d’água em menos de uma hora, atravessa Kerrville. Ao menos 95 corpos foram encontrados na área. Dos 173 casos de desaparecimento registrados no Texas, 161 são de pessoas que estavam em Kerr e foram arrastadas pela água. Cinco meninas e uma monitora que estavam no Camp Mystic ainda não foram encontradas.
Enquanto o estado tenta se recuperar, despontam questionamentos sobre a ineficácia dos sistemas de alerta para chuvas. Segundo a imprensa local, socorristas solicitaram que mecanismo, que envia mensagens de textos e áudios pré-gravados para pessoas situadas em áreas de risco, fosse acionado no condado de Kerr na madrugada de sexta-feira, por volta das 4h22.
Mas os despachantes atrasaram o envio do alerta, alegando a necessidade de autorização especial, de acordo com a Rádio Pública do Texas (TPR). Com isso, alguns moradores receberam só receberam o aviso às 10h — quase seis horas após o pedido inicial.
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Tempestade desproporcional
Autoridades de gerenciamento de emergências no Texas alertaram na última quinta-feira, antes do feriado de 4 de julho, Dia da Independência, que partes do centro do Texas teriam chuvas fortes e enfrentavam risco de enchentes repentinas, com base nas previsões do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.
Mas o administrador municipal de Kerville, Dalton Rice, disse que o dilúvio de sexta viu o dobro da chuva prevista caindo sobre dois braços do Guadalupe, perto da bifurcação onde convergem. Ou seja, toda a água foi direcionada para o canal único do rio, onde corta a cidade. Autoridades alertaram que a continuidade das chuvas – mesmo que mais fracas do que o dilúvio de sexta-feira – pode desencadear novas enchentes devido à saturação dos rios.
Rice e outras autoridades públicas, incluindo o governador do Texas, Greg Abbott, prometeram que as circunstâncias da inundação, as previsões meteorológicas e os sistemas de alerta seriam examinados assim que o desastre fosse controlado. Enquanto isso, as operações de busca e salvamento continuam, 24 horas por dia, com centenas de equipes em terra – e uma miríade de desafios.
“Está quente, há lama, eles estão movendo os destroços, há cobras”, disse Martin, do Departamento de Segurança Pública do Texas, durante coletiva de imprensa no domingo.
Trump afirmou que deve visitar o local da tragédia na próxima sexta-feira, mas já delineou planos para reduzir o papel do governo federal na resposta a desastres naturais – o que fará com que os estados arquem com a maior parte do ônus.
Em paralelo, especialistas apontam que os cortes de Trump na agência controladora do Serviço Nacional de Meteorologia, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), podem estar relacionados à falha das autoridades em prever com precisão a gravidade das enchentes e emitir alertas apropriados antes da tempestade. Milhares de postos de trabalho foram fechados na agência.