A aceleração da inflação entre o final do ano passado e o início deste ano derrubou parcialmente a confiança do consumidor paulistano, que agora ensaia uma recuperação. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 11,1% em junho na comparação com igual período do ano passado, segundo levantamento da Federação do Comércio (Fecomercio-SP). No período, passou de 127 pontos para 112,9 pontos. Já no comparativo mensal, houve uma alta de 1,1%, a segunda elevação consecutiva.
Fabio Pina, assessor econômico da Fecomércio, explica que, para o consumidor, emprego e renda são os dois fatores que mais contribuem para as intenções de consumo. Com taxa de desemprego baixa e a desaceleração da inflação, houve a melhora na confiança.
“A percepção de que há algum problema na economia, para a população em geral, vem na forma de inflação. O Brasil tem um sério problema fiscal, mas isso é para o futuro. O que a população em geral vê é o emprego elevado. Isso significa renda e consumo, então não há um abalo completo na confiança”, explica.
Além do ICC, a Fecomércio também divulgou o indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), que registrou queda de 2,2% em junho ante igual mês do ano passado, para 105,1 pontos. No mês, houve elevação de 0,86%.
Para Pina, os dois dados mostram que há uma mudança de patamar. Após a queda que apresentaram no início do ano, a confiança do consumidor se estabilizou. Uma nova onda de piora, dependeria dos problemas fiscais e da política monetária, com Selic a 15% ao ano, começarem a se materializarem na economia.
“Se há um ano me falassem que a Selic estaria a 15% e a venda de veículos estivesse batendo recorde, eu não acreditaria”, explica.
Essa defasagem ocorre porque demora de seis meses a nove meses para os juros fazerem efeito na economia – maiores gastos com juros fazem as empresas adiarem investimentos, o que pode reduzir o número de empregos disponíveis, por exemplo.
Para o futuro, o assessor econômico afirma que o maior risco é a política fiscal. Uma contenção de gastos públicos evitaria um desaquecimento da economia mais forte no futuro, explicou.
Consumo das famílias
Dentro do ICF, houve uma retração maior em relação ao sentimento ligado à compra de bens duráveis, que registrou queda de 13,9% na comparação anual. Para a Fecomércio, essa retração reflete que uma parte da demanda já foi atendida, mas também é consequência do encarecimento do crédito e do maior endividamento das famílias.
Por outro lado, o ICF registrou aumento de 0,9% em relação à percepção sobre o emprego atual e a categoria “perspectiva profissional” subiu 8,6%. Essa melhora era esperada, uma vez que a taxa de desemprego para o trimestre encerrado em maio ficou em 6,2%, o menor patamar desde 2014, com 39,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada – também recorde.