counter Paz trumpinana vai ganhando contornos e presidente acumula vitórias – Forsething

Paz trumpinana vai ganhando contornos e presidente acumula vitórias

“É Natal todo dia”, disseram vários trumpistas sobre as últimas duas semanas, celebrando vitórias que vão desde o micro – os 16 milhões de dólares ganhos da CBS por editar de forma favorável uma entrevista da candidata Kamala Harris – até o macro, com a aprovação do pacotão tributário com que Donald Trump pretende energizar a economia.

No meio, a formidável operação militar em que seis bombardeiros B-2 Spirit decolaram da base no interior dos Estados Unidos e foram até o Irã soltar superbombas para destruir instalações nucleares, voltando sem pousar, num voo de 37 horas.

O mundo não caiu, não foi iniciada uma guerra em que morreriam 30 mil pessoas – segundo Tucker Carlson, da oposição pela direita – e nem vivemos algo pior do que a crise dos mísseis de 1962, conforme torcia o líder máximo da política externa brasileira, Celso Amorim. Os países com mísseis para reproduzir isso não quiseram se envolver. Rússia e China deixaram o Irã se virar sozinho e o resultado foi, claro, um cessar-fogo. Quem é besta de enfrentar, ao mesmo tempo, potências tecnológicas, guardadas as proporções, como Israel e os Estados Unidos?

Trump fez exatamente o que pretendia: entrou, bombardeou componentes importantes do programa nuclear bélico iraniano e deu o assunto por encerrado. Os B-2 ficaram 25 minutos em espaço aéreo iraniano.

‘CLASSE DOS ESPECIALISTAS’

O historiador Victor David Hansen, o único nome conhecido do mundo acadêmico que apoia Trump, às vezes com exagero, notou a contradição da “classe dos especialistas”, os professores de universidades e centros de estudos consultados pelos jornalistas quando há crises na política externa: primeiro, diziam que o Irã estava muito longe de produzir uma bomba nuclear ou talvez nem quisesse isso. Assim que as instalações mais sensíveis foram atingidas, passaram a dizer que nem de longe afetaram a capacidade nuclear bélica iraniana. Ou seja, o Irã continua em condições de fazer a bomba que diziam que não iria produzir.

O fenômeno é conhecido em outros países: especialistas e professores de relações internacionais que não gostam de Trump são procurados por jornalistas que abominam Trump e o resultado, inevitável, é um show de previsões catastrofistas sobre sua besta fera. Na concepção das duas partes, tudo o que ele fizer vai dar errado.

Continua após a publicidade

Veja-se o caso do grande pacote de leis orçamentárias e tributárias. A revista Economist, que se tornou porta-voz do liberalismo globalizado e progressista, não do clássico sobre o qual foi fundada, disse que o pacotão de Trump vai “erodir os fundamentos da prosperidade da América”. Atenção, não será um pacote ruim, ou cheio de defeitos, ou negligente com a astronômica dívida pública, mas um instrumento para nada mais nada menos do que acabar com os Estados Unidos.

A fantasia do fim da América é uma constante em todas as análises mais à esquerda (mais à direita, são só elogios, e o infeliz que quiser ter uma posição independente tem que gastar muitas horas de internet). O pacotão de Trump faz exatamente o que o aumento das alíquotas do imposto de renda pretende no Brasil: aliviar os custos para a classe média baixa. A perda de receita, Trump acha que consegue compensar com o aumento do consumo e da atividade econômica, não com mais impostos.

GARANTIAS PESSOAIS

No plano externo, tal como está a situação hoje. O Trump pacificador não muda nada na guerra na Ucrânia. Aliás, concluiu o que tantos já sabiam: Putin quer “continuar matando gente”. É, infelizmente, verdade. Putin já reiterou recentemente que “russos e ucranianos são o mesmo povo” e, portanto “toda a Ucrânia é nossa”. Conseguirá o presidente americano mudar isso? Parece impossível sem um nível de envolvimento que ele não quer ter.

No Oriente Médio, as probabilidades são melhores, por incrível que pareça. Trump já chegou ao ponto de dar garantias pessoais ao Hamas de que, depois de uma trégua de 60 dias, não haveria volta à guerra – e aí entra sua capacidade de pressão sobre Israel.

Continua após a publicidade

Trump tem deixado mais do que claro que quer fazer um grande acordo com as monarquias árabes do Golfo e estas só podem aceitar um acordo com Israel se houver algum tipo, mesmo que esboçado, de solução para um estado palestino. Para o atual primeiro-ministro israelense, Benjamiin Netanyahu, é inconcebível – mas está é uma palavra que está passado por mudanças. Ele vai sentir o clima hoje na Casa Branca.

Há vários fatores em ação que pareceriam impossíveis até recentemente. Por exemplo, Trump se encontrou com o presidente que tomou o poder na Síria, Ahmed Al-Shara, que era um líder rebelde da linha Al Qaeda e chegou a ser prisioneiro dos americanos no Iraque. Trump elogiou o presidente “jovem e bem apessoado”, levantou sanções e tem um enviado negociando ativamente in loco.

Agora, também circulam informações de que o Hezbollah, batido mas longe de vencido por Israel, estaria disposto a concessões no Líbano, como entregar armas ao governo central, representado pelo presidente Joseph Aoun (nada a ver com Michel Aoun, que começou travando uma guerra contra a Síria e a organização xiita e terminou se aliando a ela).

‘COMO UM FOGUETE’

A ideia de que Síria e Líbano se entendam, de alguma maneira, com Israel, é simplesmente de tirar o fôlego. Se somarmos a Arábia Saudita, como pretende Trump, teremos um Oriente Médio transformado – não sem problemas, não sem soluções quase impossíveis, não sem um Irã tramando vingança, mas direcionado majoritariamente para encontrá-las, não criar novos conflitos.

Continua após a publicidade

Teremos também um presidente americano que vai poder aplicar suas ideias para o crescimento da economia, sem a falência generalizada prevista quando ele aumentou radicalmente as tarifas de importação – hoje, praticamente nem se fala mais nisso. Por sorte, também não se fala mais de balões de ensaio simplesmente absurdos como anexar a Groenlândia ou o Canadá.

A questão da invasão via fronteira com o México? Resolvida, e não foi preciso nem um muro. Há métodos altamente condenáveis, como prender pedreiros ou jardineiros, inventar a cruel “Alcatraz dos jacarés”, e outros abusos, mas o efeito sobre a imigração irregular foi incontestável – e 57% dos americanos apoiam a expulsão de imigrantes ilegais

Está para sair o acordo de trégua de sessenta dias, com a libertação de metade dos reféns israelenses, na primeira fase, e concessões de Israel, com muitas pontas em aberto. Quais as chances de dar errado? Enormes. Mas podem ter certeza que os especialistas garantirão que nada vai dar certo, contrariando o que temos visto nas últimas semanas.

Imaginem a economia disparar “como um foguete”, nas palavras de Trump, e ser acertado um arcabouço de solução para o Oriente Médio. Bom demais para ser verdade? Os especialistas já têm todas as respostas prontas.

Publicidade

About admin