Filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) vão às urnas neste domingo, 6, para escolher os próximos dirigentes da legenda nos níveis nacional, estadual e municipal, em meio a uma pulverização de candidatos e disputas regionais. Será a primeira vez que a legenda fará eleições direitas para renovar o comando do partido desde 2013 — nos anos de 2017 e 2019, Gleisi Hoffmann foi eleita por meio de um sistema híbrido, com votações regionais para a escolha de delegados a um congresso partidário, que apontou o presidente da legenda.
Com 1,7 milhão de filiados, o PT é o segundo maior partido em número de associados, atrás apenas do MDB, que tem 2,1 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A expectativa é que 1,3 milhão de petistas participem da votação de hoje, chamada de Processo de Eleição Direta (PED). O processo eleitoral será feito por meio de votação em cédulas. Se nenhum candidato obtiver a maioria dos votos, será necessário um segundo turno, no dia 20 de julho, entre os dois mais votados.
Apesar de não ser inédita, a profusão de candidaturas à principal instância do PT foi construída de forma ruidosa neste ano. Há quatro nomes na disputa pela presidência nacional da legenda.
O candidato favorito é Edinho Silva, da corrente majoritária CNB (Construindo um Novo Brasil), ala majoritária do partido. O ex-prefeito de Araraquara é considerado o porta-voz da moderação na disputa e tem defendido uma maior conexão do PT com a realidade da população, aberta a mudanças e voltada à renovação, com apelo aos jovens. Também tem deixado claro que a legenda precisa construir a maior aliança possível para 2026 — ele foi um dos articuladores da “frente ampla”, que trouxe políticos de centro para o palanque de Lula em 2022. Edinho chegou a sofrer fogo amigo de nomes da própria CNB, como a ex-presidente do PT Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, mas hoje é visto hoje como um nome pacificado entre os petistas próximos ao governo.
Seu principal adversário deve ser o deputado federal Rui Falcão, da corrente Novo Rumo, que foi presidente do PT de 1993 a 1994 e de 2011 a 2017. Ele tem criticado o movimento ao centro feito pelo partido e ressaltou que a legenda precisa “reafirmar o seu horizonte histórico” defendido desde sua origem: a construção de uma sociedade socialista, na qual “o poder político e as riquezas estejam sob a direção das classes trabalhadoras”. No manifesto em que lançou a sua candidatura, defendeu o fim das limitações impostas pelo arcabouço fiscal e disse que o PT precisa voltar a ter um pé nas instituições e outro na organização popular e relativizou a busca incessante por uma frente ampla.
Outros dois candidatos estão na disputa, ambos nomes com trajetória na burocracia petista. O historiador Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda, é membro do Diretório Nacional e já foi vice-presidente do partido e dirigente da Fundação Perseu Abramo e da revista Teoria e Debate, ambas do partido, e do Foro de São Paulo, organização que reúne as siglas de esquerdas da América do Sul. O outro concorrente é Romênio Pereira, do grupo Movimento PT, que ocupa o cargo de secretário de Relações Internacionais do PT — ele também é membro do Diretório Nacional da legenda.
Na última semana, diante da crise do IOF entre Lula e o Congresso, três dos candidatos (Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira) lançaram uma carta em que defendiam um endurecimento contra a direita, que estaria tentando “sufocar” o governo. ‘O alerta: a situação política é gravíssima. A maioria do Congresso Nacional, inclusive os partidos de direita com ministros no governo federal, está tentando sufocar o governo Lula’, diz o texto, em que pedem também mobilização popular contra os parlamentares de direita e a política de juros; a substituição de ministros que fazem ‘o jogo da direita’, ação no STF para retomar IOF e o corte de subsídios que beneficiam os super-ricos. Mais moderado e defensor da composição com o centro político e até a direita, Edinho não assinou o documento.
Estados
A disputa pelo comando dos diretórios estaduais também tido barulho em algumas regiões. Nesses casos, os impasses se dão pela costura de candidaturas ao Senado e aos governos estaduais no ano que vem, uma vez que o presidente do diretório tem influência não apenas na escolha desses candidatos, mas também no caixa de campanha.
No Paraná, por exemplo, o deputado estadual Arilson Chiorato, aliado de Gleisi, pleiteia sua reeleição no posto. Do outro lado, porém, está o deputado federal Zeca Dirceu, que também disputa o cargo e que, assim como Gleisi, mira uma vaga ao Senado em 2026.
O mesmo acontece no Ceará e na Bahia, com os caciques locais exercendo influência na escolha dos dirigentes estaduais. A leitura de petistas, no entanto, é a de que deverão prevalecer os nomes encabeçados pelos governadores — também petistas — de cada um dos estados: Elmano de Freitas e Jerônimo Rodrigues.
São Paulo e Rio de Janeiro são alguns dos estados em que as disputas se mostram mais pacificadas: Kiko Celeguim é o preferido para obter um novo mandato à frente do diretório paulista, embora enfrente uma disputa com o deputado estadual Antonio Donato, líder da federação PT-PCdoB-PV na Assembleia Legislativa de São Paulo. No Rio, Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT que filiou número recorde de petistas nos últimos meses, chegou a lançar-se para a presidência nacional, mas acabou desistindo e lançou seu filho, Diego Zeidan, ao diretório fluminense.
Comando interino
O PT nacional é comandado interinamente pelo senador Humberto Costa (PT-PE) desde março de 2025, depois que Gleisi deixou o posto para virar ministra de Lula.
Mais do que uma renovação de quadros, a eleição deste domingo será chave para pavimentar a construção da campanha de Lula em 2026 — tarefa que já se mostra dificultosa frente à organização e ao avanço da direita capitaneada por aliados de Jair Bolsonaro.