A Rússia se tornou nesta quinta-feira, 3, o primeiro país a reconhecer o governo do Talibã no Afeganistão. Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que enxerga com otimismo as oportunidades comerciais e econômicas com o regime afegão, especialmente nos setores de energia, transporte, agricultura e infraestrutura, e que as nações serão aliadas contra o terrorismo.
“Acreditamos que o ato de reconhecimento oficial do governo do Emirado Islâmico do Afeganistão dará impulso ao desenvolvimento de uma cooperação bilateral produtiva entre nossos países em vários campos”, disse.
Após a notícia, o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, Amir Khan Muttaqi, afirmou que valoriza “essa medida corajosa tomada pela Rússia e, se Deus quiser, ela servirá de exemplo para outros também”. A Rússia tem estreitado os laços com o Talibã, que importa gás, petróleo e trigo russo desde 2022.
Trata-se também de uma estratégia de segurança: em março de 2024, 149 pessoas foram mortas num ataque reivindicado pelo Estado Islâmico (EI) numa sala de concertos nos arredores de Moscou, capital da Rússia. Na época, informações de inteligência dos EUA indicaram que a responsabilidade foi do braço afegão do grupo terrorista, o Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K). Aproximar-se do Talibã é ter, portanto, uma espécie de escudo.
Embora nenhum outro país tenha oficialmente reconhecido a administração do Talibã, China, Emirados Árabes Unidos, Uzbequistão e Paquistão também designaram embaixadores em Cabul.
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Talibã no poder
O grupo liderou o país de 1996 a 2001. Depois de retomar o poder em 2021, o Talibã tentou projetar uma imagem mais moderada para obter apoio. Embora tenha feito inúmeras promessas à comunidade internacional de que protegeria os direitos das mulheres, a postura linha dura não parece ter mudado: mulheres não são permitidas em escolas, academias ou parques e, mais recentemente, foram barradas de trabalhar para as Nações Unidas.
As mulheres também são obrigadas a cobrir “completamente seus corpos na presença de homens que não pertençam à sua família” e a não falarem em público “ao saírem de casa por necessidade”. O texto também veta o transporte de mulheres sozinhas ou na companhia de um homem que não seja da sua família.
Além disso, no ano passado, 280 membros das forças de segurança do Afeganistão foram afastados por não deixarem a barba crescer e deteve mais de 13.000 pessoas por “atos imorais” em 2023.