counter Empresa ligada à Prefeitura do Rio foi turbinada com nomeações políticas, denuncia vereador – Forsething

Empresa ligada à Prefeitura do Rio foi turbinada com nomeações políticas, denuncia vereador

A Companhia Municipal de Energia e Iluminação (Rioluz), uma empresa pública vinculada à estrutura da Prefeitura do Rio de Janeiro, tem sido usada para nomeações políticas, de olho nas eleições de 2026. É o que afirma uma notificação feita na noite desta terça-feira, 1, pelo vereador carioca Pedro Duarte (Novo) ao Tribunal de Contas do Município (TCM) local. De acordo com a denúncia, a Rioluz ganhou 63 novos postos de trabalho comissionados apenas nos primeiros seis meses deste ano. Dentre as pessoas nomeadas, estão ao menos 14 funcionários que têm em seu currículo candidaturas ou participações em prefeituras do estado.

Criada em 1990, a Rioluz tem, hoje, caráter principalmente administrativo, técnico e regulatório, o que não justifica a ampliação. A empresa é responsável por fiscalizar o cumprimento dos contratos de concessão em sua área, a iluminação pública, e portanto, supervisionar o trabalho exercido por companhias privadas — como a Smart Luz, que desde 2020 é quem cuida dos postes de luz e das câmeras de monitoramento, por exemplo. 

Além disso, tem entre suas atribuições tarefas como o licenciamento de empresas de elevadores e escadas rolantes, assim como a iluminação de eventos públicos e privados. O escopo de atuação é o mesmo há cinco anos, desde quando boa parte das atribuições da Rioluz foi transferida para a iniciativa privada. 

Ainda assim, o quadro de funcionários da empresa pública aumentou de maneira expressiva em um curto período. Dentre as recentes nomeações, 36 pessoas assumiram funções de outros empregados exonerados no período. E outras 48 foram nomeadas em novos cargos comissionados criados. Além disso, outros 15 servidores que estavam em outras pastas foram realocados para a empresa pública. Com isso, a Rioluz saltou de um equipe com 347 comissionados para 410 empregados nesse formato. 

O plano de carreira na empresa pública impressiona: dentre os nomeados neste ano, 20 já trocaram de cargo nos últimos seis meses. Na maior parte das vezes, também é possível observar um padrão de promoções simbólicas: como mudanças de “Assistente I” para “Assessor” ou “Gerente”, sem alteração funcional evidente; e que normalmente acontecem em unidades estratégicas, como na Presidência, Chefia de Gabinete ou em diretorias ligadas à cúpula. 

Olhar estratégico

Na lista de nomeações, aparecem casos como o de Brayan Lima Cordeiro, que assumiu cargo de gerente na Rioluz. No ano passado, ele chefiou a Secretaria de Gestão e Programas em Saúde da cidade de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O município era comandado por Waguinho (Republicanos), aliado do prefeito Eduardo Paes (PSD). Valber Luiz Marcelo de Carvalho, por sua vez, ganhou o posto de Assistente I na empresa pública. Ex-prefeito da cidade de Tanguá, no Leste Fluminense, ele tentou retornar ao comando da prefeitura no ano passado, sem sucesso. 

Continua após a publicidade

Thales Abreu Vianna da Silva foi outro nomeado para o cargo de Assistente I na Rioluz. Ele foi secretário de Obras e Meio Ambiente da cidade de Sumidouro, na Região Serrana do Rio. Já Alexandre dos Reis Ferreira, que ganhou o mesmo posto, foi candidato a vereador pelo PL em Nilópolis, na Baixada Fluminense, no ano passado. Há ainda casos como o de Marcos Felipe Marques da Cunha Carvalho, escolhido como diretor da empresa pública. Ele foi assessor e sócio do ex-deputado federal Marco Antônio Cabral, filho do ex-governador Sergio Cabral. 

O presidente da Rioluz, Rafael Thompson
O presidente da Rioluz, Rafael ThompsonReprodução/.

Na lista dos nomeados que ganharam promoções, destaca-se Ronaldo do Carmo Anquieta (União), eleito suplente para a Assembleia do Rio em 2022. Na Rioluz, ele ganhou cargo no dia 5 de junho como Assistente I. Oito dias depois, foi promovido a Coordenador de Processo I. No ano passado, ele havia concorrido à Prefeitura de Barra Mansa, cidade no Sul Fluminense. Antes, exerceu a função de Secretário de Esporte e Lazer nas cidades de Itaboraí e Miguel Pereira, ambas também no estado do Rio. 

As datas se repetem com Marcelo Borges da Silva, o ex-vereador de Barra Mansa e ex-parlamentar estadual Marcelo Cabelereiro (União). Ele foi nomeado como Assistente I em 5 de junho e promovido a Coordenador de Processo I também em 13 de junho. 

Continua após a publicidade

No total, dentre as 14 nomeações com histórico na política mapeadas, foram contemplados nomes ligados a pelo menos dez cidades do interior do estado, divididos em cinco regiões diferentes — além de contemplados que já foram candidatos na capital carioca. 

O dono da caneta

O início da onda de nomeações coincide com a troca no comando da Rioluz. Em dezembro de 2024, Rafael Thompson (PRD) foi nomeado presidente da empresa. Ex-secretário de Governo do governador Cláudio Castro (PL), Thompson também foi chefe de Gabinete do presidente da Assembleia do Rio, Rodrigo Bacellar (União), com quem rompeu politicamente. À época, a escolha feita pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), foi interpretada como um movimento para se fortalecer junto aos adversários políticos, ampliando sua base. Se observado o histórico da empresa pública, inclusive, é comum ver nomeações de presidentes ligados a partidos e políticos influentes no estado. 

Eduardo Paes recua, mais uma vez, sobre projeto que cria tropa armada municipal
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD): empresa pública municipal tem recebido indicações políticasTomaz Silva/Agência Brasil

Prefeito da capital carioca em seu quarto mandato, Paes já movimenta as peças de seu tabuleiro para a eleição do ano que vem, quando pretende se candidatar a governador. Bem cotado nas pesquisas preliminares, o alcaide já mostrou seu domínio na capital carioca, mas sabe que precisa se fortalecer no interior do estado se quiser vencer o pleito. 

Continua após a publicidade

Os municípios além da Região Metropolitana fluminense, inclusive, têm sido alvos de acenos públicos do alcaide nas redes sociais. Por isso, chama ainda mais a atenção o boom de nomeações na Rioluz de pessoas com histórico político no interior. 

A empresa pública, de acordo com Pedro Duarte, representa um “caso emblemático” do “uso político a que alguns órgãos públicos estão sendo submetidos”. “O gestor se trata de um ex-aliado de Bacellar, que foi para o lado do prefeito Paes, ao que parece tendo em troca cargos de caráter predominantemente político. Não dá para ficar usando dinheiro público por motivos eleitoreiros”, afirma. 

Na notificação feita ao TCM do Rio, Duarte solicitou que sejam apurados a legalidade e motivação administrativa das nomeações; a compatibilidade dos cargos criados com as funções atuais da companhia; e a eventual ocorrência de desvio de finalidade no uso de cargos comissionados. 

Em nota, a Rioluz afirma que “as nomeações estão inseridas com base nas necessidades operacionais e estratégicas” e que todos “os nomeados foram selecionados com base em critérios técnicos”. 

“A RioLuz esclarece que as nomeações estão inseridas com base nas necessidades operacionais e estratégicas. Nos últimos meses, a empresa intensificou a atuação em projetos como a modernização da iluminação em parques, túneis e vias públicas. Além disso, também houve ampliação das equipes de fiscalização e implantação de novos projetos. Todas as nomeações passam pela Secretaria de Integridade do município e somente são efetivadas após aprovação do órgão”, diz a empresa.

Publicidade

About admin