counter O impacto da IA na atenção pré-natal e no cuidado materno-infantil – Forsething

O impacto da IA na atenção pré-natal e no cuidado materno-infantil

Na prática médica, por trás do jaleco e dos equipamentos de exames, muitos tipos de inteligência são empregados até o fechamento de um diagnóstico. A sabedoria humana que vem da experiência, o conhecimento técnico-científico e a inteligência emocional, hoje, dividem lugar também com a inteligência artificial (IA), cada vez mais presente na rotina assistencial — especialmente nos cuidados materno-infantis.  

Um exemplo notável do ganho de eficiência com a utilização da IA, sobretudo quando associada à impressão 3D, à realidade virtual e aumentada e ao uso do metaverso, é o caso de sucesso do planejamento cirúrgico dos gêmeos ligados pelo cérebro, operados em 2022 no Instituto do Cérebro, no Rio de Janeiro.  

Tive o prazer de participar desse caso, fazendo os exames de pré-natal com imagens de ressonância magnética e ultrassom para o acompanhamento desses bebês. Compusemos modelos virtuais em terceira dimensão, que ajudaram toda a equipe médica a realizar um procedimento mais seguro e previsível. E a IA foi fundamental nesse processo.  

Os algoritmos são treinados para segmentar as imagens dos exames, ou seja, identificar e separar automaticamente as diferentes estruturas de interesse. No caso dos gêmeos craniópagos, o cérebro, os vasos sanguíneos e o crânio, para citar alguns exemplos. Com base nesses dados, a IA reconstruiu modelos 3D detalhados da anatomia, incluindo as conexões cerebrais e vasculares compartilhadas.

Inserimos os modelos 3D digitais em um ambiente de metaverso e os acessamos com a ajuda de óculos de realidade virtual. Isso permitiu que os cirurgiões realizassem simulações virtuais do procedimento, navegassem virtualmente pelas estruturas cerebrais, planejassem cuidadosamente os pontos de separação, previssem as possíveis complicações e ações para contorná-las, testassem diferentes abordagens e treinassem toda a equipe com o auxílio de médicos ingleses que já tinham experiência em casos como esse. Tudo isso a distância, em um ambiente digital seguro e controlado, o que aumentou a segurança e a confiança na hora do procedimento real. 

Continua após a publicidade

Além de todo o aparato virtual, usamos impressoras 3D para criar réplicas físicas e exatas dos gêmeos, de modo que a equipe tocasse nas estruturas. Dessa forma, ampliou-se a compreensão da profundidade e das relações espaciais, facilitando decisões mais precisas.   

Contexto brasileiro na aplicação da IA na saúde

Esse caso demonstra o poder e o grande benefício da integração da IA e como ela pode transformar a medicina. E não é algo isolado: a pesquisa TIC Saúde 2024, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostra que 17% dos médicos brasileiros disseram já utilizar IA generativa em suas rotinas, e esse número chega a 20% nas unidades privadas de saúde do país. O estudo mostra ainda que 29% dos profissionais apontam que utilizam a inteligência artificial para a melhoria da eficiência nos tratamentos e 22% a enxergam como uma auxiliar essencial no diagnóstico de doenças.  

No campo da saúde feminina, a IA tem aplicações significativas, como na identificação de cânceres de mama e ginecológicos, por exemplo. É possível usar a tecnologia para a detecção precoce do câncer, identificação automática da condição e predição de malignidade das lesões, otimizando o diagnóstico e mitigando erros e avaliações subjetivas por parte dos médicos. O algoritmo lê um grande volume de exames e destaca aqueles com achados suspeitos que precisam de atenção especial dos radiologistas. Esse ganho de tempo permite que os médicos se concentrem no que realmente importa: o cuidado humanizado e a atenção individualizada. 

Continua após a publicidade

Na obstetrícia, vemos grandes avanços que vão desde as medições mais comuns, como o tamanho da cabeça ou do abdome do bebê – agora feitas de maneira automatizadas pelos equipamentos de ultrassom – até a detecção precoce de anomalias e reconstruções 3D de imagens fetais. A IA revolucionou o acompanhamento pré-natal.  

Avançando para o futuro, a histeroscopia virtual – menos invasiva e feita por meio de exames de imagem –, a reconstrução 3D da anatomia cardíaca com a IA e as tecnologias hápticas, que usam o tato para criar experiências e interações mais realistas e envolventes com as imagens para treinamento cirúrgico de alta precisão, são apenas alguns exemplos do que está por vir, em breve, aqui no Brasil. 

A inteligência artificial está pavimentando o caminho para terapias personalizadas com a medicina 4.0 que integra tecnologias digitais. Isso não é apenas sobre tecnologia de ponta, é sobre empoderamento, ciência brasileira, precisão e, acima de tudo, um futuro de cuidado mais eficaz e preditivo para todas.

Continua após a publicidade

*Heron Werner é doutor em ginecologia e obstetrícia, especialista em medicina fetal da CDPI e do Alta Diagnósticos e responsável pelo laboratório de Biodesign Dasa/PUC-Rio

Compartilhe essa matéria via:

Publicidade

About admin