Irá Elon Musk criar o Partido da América e melar o jogo de Donald Trump? Os dois voltaram a brigar e o assunto também vem sendo discutido no Brasil, por maiores que sejam as diferenças de estilo e de propostas: como gastar, o impulso de todos os governos, sem quebrar a banca.
A nova etapa da briga de Musk com Trump envolve o grande projeto orçamentário e tributário do presidente, com cortes de impostos e outras benesses. Trump acha que o incentivo à atividade econômica compensará o aumento da dívida, um Leviatã de 36 trilhões de dólares. Musk acha o oposto, que o país quebrará com o aumento de cinco trilhões no teto da dívida.. “Se essa lei insana for aprovada, o Partido da América será formado no dia seguinte”, ameaçou.
A votação final é hoje na Câmara, depois de passar raspando no Senado. Não é só Musk que está preocupado, mas é ele que mais incomoda. Tanto que Trump rugiu de volta, dizendo que nunca nenhum ser humano recebeu tantos subsídios como Musk com a Tesla e a SpaceX. Se forem cortados, Musk “terá que fechar a loja e voltar para casa” – ou seja a África do Sul, seu país original. Note-se a ironia de Trump usar um tipo de ataque que foi feito pela esquerda na época nada distante em que Musk era seu maior inimigo.
Apesar das inevitáveis risadinhas, o assunto é sério e uma parte da direita americana se apavora com o risco que a gastança traz, mesmo quando a maior superpotência da história está envolvida.
BENEFÍCIOS POR ACNE E ECZEMA
O mesmo problema provocou uma rebelião interna, com sinal invertido, no Partido Trabalhista do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Diante de uma gastança insustentável, Starmer ensaiou colocar mais controles para a concessão de benefícios por incapacidade.
Estes pagamentos, criados com o louvável objetivo de dar maior autonomia às pessoas com limitações de saúde, viraram uma usina de fraudes depois da pandemia, quando as perícias médicas deixaram de ser presenciais.
Hoje, há anomalias como beneficiados que alegam sofrer de acne, constipação ou eczema. Ansiedade e depressão tornaram-se algumas das principais alegações. Starmer propunha apenas maiores filtros para os novos benefícios, mas enfrentou uma revolta interna da ala mais à esquerda do partido e teve que voltar atrás. O mesmo já tinha acontecido com os subsídios a aposentados para o pagamento das caríssimas contas de calefação. Acusado pelo próprio partido de pretender congelar os idosos no inverno, ele recuou.
É claro que, como todo governo de esquerda, ele compensa despesas com aumentos de impostos, o que desestimula os empreendedores e sufoca o ambiente de negócios. O Reino Unido hoje é o país com o maior êxodo de milionários, os ultrataxados que procuram paraísos como Dubai e outros enclaves onde não existe imposto de renda para pessoa física e os empreendedores recebem incontáveis estímulos. A saída de milionários britânicos é calculada em 16,5 mil este ano.
DINHEIRO NO BOLSO
Trump acha que consegue eliminar relativamente poucos benefícios – embora dolorosos, como programas de saúde para os mais pobres – e ao mesmo tempo cortar impostos, contando com o dinamismo incomparável da maior economia do mundo. Além do aumento de consumo dos contribuintes que terão mais dinheiro no bolso para gastar. Musk prevê nada menos que uma crise civilizacional. Ele também promete apoiar a reeleição de um raro dissidente republicano, o deputado Thomas Massie.
Quem tem razão?
Mesmo com a maior fortuna do mundo e o X na mão, Musk não tem o poder de Trump para determinar políticas de governo – e pressionar os deputados republicanos a não vacilar na hora da aprovação.
Muito mais do que Musk, o tempo é o maior adversário de Trump: todos os resultados que ele promete têm que começar a aparecer antes das eleições legislativas do ano que vem.
Se a nova lei passar, claro. Imaginem só o que é um país em que o Congresso vota contra projetos do presidente.