O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da França, Emmanuel Macron, conversaram por telefone nesta terça-feira, 1, após quase três anos sem diálogo direto. Segundo o Kremlin, a ligação, que durou cerca de duas horas, teve “caráter substancial”.
Durante a ligação, Macron voltou a pedir um cessar-fogo imediato na Ucrânia e defendeu o início de negociações para pôr fim ao conflito. Putin, por sua vez, reiterou que a guerra é fruto de “ações provocativas do Ocidente”, acusando os países da Otan de desconsiderarem, por anos, os interesses de segurança da Rússia.
Durante o telefonema, Putin disse que qualquer acordo de paz deve levar em conta “as novas realidades territoriais”, algo que o governo ucraniano e seus aliados rejeitam — a Rússia controla quase 19% do que é reconhecido internacionalmente como Ucrânia, incluindo Luhansk, além de mais de 70% das regiões de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson, e fragmentos das regiões de Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk.
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O gabinete de Macron disse que o presidente reafirmou o apoio da França à soberania e à integridade territorial da Ucrânia. Segundo ele, cabe exclusivamente a Kiev decidir se aceitará, ou não, concessões territoriais em um eventual acordo de paz. A Ucrânia argumenta que esses termos equivalem a uma rendição total, que a Rússia não está interessada em paz e que o controle russo de um quinto do país jamais será aceitável.
Outro ponto central da ligação foi a escalada de instabilidade no Oriente Médio. Os dois líderes trataram da tensão entre Irã, Israel e os Estados Unidos, especialmente após ataques norte-americanos a instalações nucleares iranianas, com o objetivo de impedir que Teerã adquirisse uma arma nuclear. O Irã negou que esteja buscando uma.
Sobre o Irã, Putin defendeu o direito do país ao uso pacífico da energia nuclear, desde que mantenha o cumprimento contínuo de suas obrigações nos termos do tratado de não proliferação nuclear. Macron, no entanto, insistiu na importância de que Teerã coopere de forma plena com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de vigilância nuclear da ONU. A recente decisão do parlamento iraniano de suspender essa cooperação aumentou as preocupações sobre o avanço do programa nuclear do país.
O gabinete do presidente francês disse ainda que Macron “expressou sua determinação em buscar uma solução diplomática que levasse a uma resolução duradoura e rigorosa da questão nuclear, da questão dos mísseis do Irã e de seu papel na região”. Ao final do telefonema, os dois presidentes concordaram em manter a coordenação diplomática sobre os temas discutidos.
França e Rússia integram o Conselho de Segurança da ONU como membros permanentes. Embora tenham mantido contatos frequentes nos primeiros meses da invasão da Ucrânia, os líderes não conversavam diretamente desde setembro de 2022.