Chefe de um governo com baixa influência no Congresso, Lula autorizou, nesta terça, que a AGU buscasse o STF para tentar manter o aumento de imposto instituído por ele no decreto do IOF.
Mais do que uma tentativa de confrontar o Legislativo, o que Lula faz, segundo seus auxiliares, é lutar pela própria sobrevivência, tentando, ainda que com ajuda do Supremo, manter o poder de suas decisões diante do Parlamento.
“Se ficasse calado, vendo o Congresso tirar a tinta de sua caneta presidencial, Lula poderia entregar logo a chave do Planalto ao Hugo Motta e o Alcolumbre”, diz um ministro do governo.
Esse é um grande dilema para Lula. Desde que chegou ao Planalto, o petista escolheu entregar as pastas mais importantes e os maiores orçamentos ao PT. Para governar, ele precisaria de outros sócios importantes no Legislativo, mas não trouxe para dentro do Planalto, onde o jogo é jogado de fato, nenhum partido centro.
Lula tinha influência política quando era popular e guardava a chave do cofre das emendas parlamentares. Como é o dinheiro que dita fidelidade em Brasília, o petista conseguiu governar com ampla base parlamentar nos primeiros dois mandatos. Agora que esse poder sobre o cofre passou ao Congresso, o petista acabou ficando retardatário diante de partidos cada vez mais poderosos e abastecidos com verbas públicas — os bilhões das emendas, do fundo partidário e do fundo eleitoral — e menos obrigados a se mostrarem fieis nas votações.
Permitir que o Congresso, dominado pelo centro e pela direita reescreva e derrube suas decisões seria o equivalente a cair sem lutar, como diz o auxiliar do petista. Lula, no entanto, parece já ter perdido uma batalha importante. Não tem e não terá o apoio político para implementar sua agenda de reeleição.
Com as críticas disparadas ao Legislativo nessa crise do IOF, Lula assume o papel de presidente que não consegue governar por causa dos opositores no Parlamento.
Admite seus limites como chefe do Executivo, mas ganha um trunfo: poder culpar o Congresso por tudo que não for realizado daqui para frente, ainda que os fracassos sejam colhidos por obra da própria incapacidade do Executivo.
O caminho não é novo. No governo passado, Jair Bolsonaro também usou o Congresso e o STF como muletas para sua falta de resultados no Planalto.
Assumindo o papel de pai dos pobres que luta contra as elites — ainda que tenha ele próprio ganhado 27 milhões de reais em palestras bancadas por empreiteiras da Lava-Jato e outras empresas, entre 2011 e 2014 –, Lula tentará vencer nas urnas com a mesma fórmula de outras campanhas eleitorais. Pode não ser o suficiente, como quase não foi em 2022, mas é o que restou ao petista.