O mercado imobiliário das principais capitais brasileiras vive uma transformação poderosa. Na capital paulista, por exemplo, em bairros nobres como Itaim Bibi, Jardins e Vila Nova Conceição, o estoque de terrenos se tornou escasso e cada metro quadrado disponível virou objeto de desejo entre as grandes incorporadoras. O que antes era uma busca por terrenos, agora se tornou uma verdadeira espécie de corrida do ouro urbano.
É nesse contexto de valorização e escassez que um perfil de profissional do mercado vem ganhando protagonismo: o corretor terrenista. O nome é feio e um tanto quanto esquisito, mas virou uma especialidade em alta. Mais do que um craque em vendas, o terrenista atua como um inteligente articulador de oportunidades fundiárias. Seu papel é identificar, mapear e negociar terrenos com potencial para incorporação, algo que exige visão estratégica, domínio técnico e profundo conhecimento da dinâmica urbana e do mercado.
Nem sempre é o terreno que está na mira desses profissionais. Um prédio ou um comércio inteiro pode ser objeto de sua pesquisa, já que, diante da escassez de bons espaços vazios nas cidades, a solução, muitas vezes, é se desfazer de imóveis construídos em áreas com potencial para novos desenvolvimentos imobiliários.
A valorização recente das ações da Tecnisa, que saltaram até 30% em um único dia após o anúncio da venda de terrenos em São Paulo para a Cyrela, num acordo que pode movimentar até R$ 510 milhões, é um retrato claro de como o terreno se tornou um ativo central. O que antes era apenas o primeiro passo de um empreendimento, agora é o próprio motor de capitalização e crescimento das incorporadoras. A Cyrela, uma das maiores do país, enxergou nesses terrenos o combustível para novos projetos, e o mercado respondeu imediatamente.
Mas antes dessa negociação milionária ganhar os holofotes, alguém identificou esse potencial. Alguém conversou com os donos, avaliou os documentos, entendeu a vocação da área, conectou os interesses das partes. É justamente nesse bastidor técnico e relacional que o corretor terrenista opera, antecipando movimentos, destravando negócios e destrinchando oportunidades que não aparecem nos portais.
Ele é o profissional que entende de expressões como zoneamento, coeficiente de aproveitamento, viabilidade de torre, outorga onerosa, testada mínima, recuos, impacto de vizinhança. Mas também sabe ler o mercado, identificar o apetite das incorporadoras e precificar algo que, muitas vezes, ainda está embaixo de uma construção antiga, de uma garagem, ou de uma casa esquecida.
Com a disputa cada vez mais acirrada por áreas nobres e o aumento da demanda por empreendimentos de alto padrão, o corretor terrenista se torna um dos profissionais mais estratégicos do setor. Ele está na base do ciclo. Muitas vezes, sem o trabalho dele, o terreno não é encontrado, o projeto não nasce e o mercado não se movimenta.
Em um cenário onde as grandes empresas do setor disputam terreno a terreno, a figura desse profissional deixa de ser um acessório e passa a ser uma peça central na engrenagem imobiliária. Ele não só identifica o espaço físico, mas antecipa o valor futuro que será gerado ali e isso, hoje, vale milhões.