Rafael Grossi, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou no domingo 29 que os ataques dos Estados Unidos ao Irã não destruíram seu programa nuclear e que Teerã poderia retomar o enriquecimento de urânio “em questão de meses”, contradizendo as alegações do presidente Donald Trump de que as ambições nucleares dos aiatolás foram atrasadas em décadas.
Durante entrevista à emissora americana CBS, Grossi pareceu corroborar uma avaliação preliminar da Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono, que havia indicado que os ataques de Washington contra as três mais importantes instalações nucleares iranianas na semana passada não eliminaram completamente suas capacidades e, provavelmente, atrasaram a indústria em cerca de seis meses.
Embora a avaliação final de inteligência ainda não tenha sido divulgada, Trump tem afirmado repetidamente ter “obliterado completa e totalmente” o programa nuclear de Teerã.
“As capacidades que eles (os iranianos) têm estão lá. Eles podem ter, em questão de meses, eu diria, algumas cascatas de centrífugas girando e produzindo urânio enriquecido, ou menos que isso. Mas, como eu disse, falando francamente, não se pode afirmar que tudo desapareceu e não há nada lá”, disse Grossi.
“Está claro que houve danos severos, mas não são danos totais”, continuou o chefe da agência de vigilância nuclear das Nações Unidas. “O Irã tem capacidade lá; capacidade industrial e tecnológica. Então, se quiserem, poderão começar a fazer isso novamente.”
Grossi também disse à CBS que a AIEA tem resistido à pressão para dizer definitivamente se o Irã possui armas nucleares ou estava perto de construir uma bomba antes dos ataques. Ele enfatizou, porém, a necessidade de sua agência ter acesso ao país para avaliar as atividades. “Não vimos um programa que visasse essa direção, mas, ao mesmo tempo, eles não estavam respondendo a questões muito, muito importantes que estavam pendentes”, afirmou.
“Nunca pararemos”
Também em entrevista à CBS, o embaixador do Irã nas Nações Unidas, Amir-Saeid Iravani, afirmou que o enriquecimento de urânio de seu país “nunca parará” porque o Irã tem o “direito inalienável” de fazê-lo para “atividades nucleares pacíficas”.
O conflito de doze dias entre Israel e Irã começou no início deste mês, quando as forças israelenses lançaram um ataque sem precedentes, alegando ter como objetivo impedir Teerã de desenvolver uma bomba nuclear. O Irã insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
Os Estados Unidos, então, atacaram três importantes instalações nucleares iranianas antes do início de um cessar-fogo na semana passada. A extensão dos danos ao programa nuclear de Teerã tem sido acaloradamente debatida desde então.
Oficiais militares americanos forneceram, nos últimos dias, novas informações sobre o planejamento dos ataques, mas com notada ausência de evidências de sua eficácia. Após briefings confidenciais, legisladores republicanos reconheceram que os ataques dos Estados Unidos podem não ter eliminado todos os materiais nucleares do Irã – mas argumentaram que isso nunca fez parte da missão militar.
Enquanto isso, o jornal The Washington Post noticiou no domingo que o governo americano interceptou mensagens nas quais oficiais iranianos, discutindo os ataques, afirmavam que eles não foram tão destrutivos quanto o previsto.