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As selfies estão destruindo os museus: especialistas comentam receios

Um turista foi acusado de rasgar um quadro de 300 anos ao tentar fazer um meme no museu Uffizi, em Florença, na Itália, no último sábado, 21. Já no dia 16, outro visitante tentou tirar uma foto em uma obra de arte e acabou quebrando o objeto no museu Palazzo Maffei, em Verona. As situações acendem um alerta em museólogos de todo mundo, que além de cuidar de cada propriedade, algumas avaliadas em milhões de reais, precisam pensar agora em como evitar que a ‘selfie’ destrua a exposição. Vivian Fava, museóloga da Casa de Cultura Laura Alvim, e Rodolfo Borbel Pitarello, coordenador de montagem de exposições do Instituto Tomie Ohtake, falaram com a coluna GENTE sobre os novos desafios no trabalho.

“Essas situações são extremamente preocupantes. Elas evidenciam um descompasso entre a valorização da experiência cultural e o comportamento de parte do público dentro dos museus que priorizam as imagens para serem postadas em redes sociais. Como museóloga de uma instituição que zela pela preservação de acervos, vejo esses episódios como um sinal de alerta. Eles apontam para a urgência de repensar estratégias de mediação, comunicação e segurança para proteger não só os objetos, mas também o próprio sentido da visita ao museu. A cultura das redes sociais transforma o espaço de contemplação em um cenário para performance. Já presenciei situações em que visitantes se aproximaram demais de peças delicadas para tirar fotos, chegando a se apoiar em vitrines ou ultrapassar sinalizações. A prevenção passa por um conjunto de ações. O treinamento da equipe que vai lidar com o público é fundamental. Os mediadores e seguranças precisam estar preparados para orientar o público com empatia. Também é importante repensar na museografia, utilizando barreiras discretas e soluções tecnológicas que permitam interação segura. Investir em comunicação visual clara e educativa, explicando por que certas condutas não são permitidas. Por fim, criar espaços apropriados para fotos dentro da exposição é um caminho para ampliar a experiência e saciar o desejo e necessidade de produção de conteúdo para as redes”, explica Vivian.

“Pensar em uma expografia e em uma sinalização acessível e segura (bases, cúpulas, vitrines, sinalização de segurança, totens informativos etc.) que privilegie a experiência do público, respeitando os limites e os cuidados com as obras, é fundamental. A escuta e o diálogo constante com quem está na linha de frente da exposição — equipes de segurança, zeladoria e equipe educativa — são essenciais, pois essas pessoas vivenciam o fluxo das salas e suas experiências são fundamentais para entendermos como os diferentes perfis de público estão acessando a mostra. Para momentos mais críticos — e também diante do receio de que algo aconteça —, existe uma metodologia de seguro das obras que cobre todos os envolvidos nesse fluxo: equipes de transporte, conservação, museologia, montagem, produção, curadoria, segurança, educativo e a própria instituição. As formas de vivência das pessoas nas exposições vêm se transformando ao longo do tempo — e continuarão mudando. Fazer uma foto dentro de uma mostra é uma prática que vem desde antes do surgimento das redes sociais e compõe uma camada de mediação importante dentro das diversas experiências possíveis numa exposição. Cabe às instituições acompanhar esses movimentos e propor respostas sensíveis e atualizadas a cada momento”, defende Rodolfo.

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