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As armas da ‘dupla do barulho’ da Câmara para atacar e defender o governo

Quando o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ainda não tinha nem nascido, o jovem Lindbergh Farias, de 22 anos, dava início a seu maior desafio ao assumir o comando da União Nacional dos Estudantes (UNE). À época, o país fervilhava com as denúncias contra o então presidente Fernando Collor, e coube a Lindbergh liderar o movimento dos caras pintadas, que levou uma multidão às ruas e acabou culminando no impeachment do mandatário. A projeção do líder estudantil lhe abriu as portas da política e, em 1994, ele se elegeu deputado federal pela primeira vez. Duas décadas depois, Nikolas daria seus primeiros passos de maneira parecida. Pegando carona no enfraquecimento do governo de Dilma Rousseff, o então estudante de direito se engajou em movimentos conservadores, participou das manifestações que levaram à cassação da petista e em 2018 já estava sobre trios elétricos em campanha para Jair Bolsonaro. Com a ajuda do presidente, foi eleito vereador por Minas Gerais e, em 2022, aos 26 anos, conquistou uma vaga na Câmara com o apoio de impressionantes 1,47 milhão de votos.

Num duelo geracional e ideológico, a dupla que se forjou nas ruas agora trava embates constantes — e barulhentos — dentro e fora do Congresso. Com 55 anos, Lindbergh é o atual líder do PT e ocupa um amplo gabinete ornado com quadros do presidente Lula, de quem recebeu a missão de partir para o enfrentamento contra os opositores. Com 29 anos, Nikolas, do outro lado da trincheira, é um dos que mais atiram pedras contra o Palácio do Planalto, mesmo sem ter um posto formal — ocupa a simbólica vice-liderança da oposição. Por isso, ele só tem direito a um gabinete comum, no qual fez questão de montar uma decoração especial com fotos de Bolsonaro, um boneco de Lula com o nariz de Pinóquio, além da peruca loira de quando se transformou em “Nikole” no Dia da Mulher.

Na arena digital, o aliado de Bolsonaro nada de braçada. Com mais de 17 milhões de seguidores no Instagram, número superior ao de Lula, Nikolas consegue pautar o debate nas redes, propagar críticas ao governo e até forçar o recuo de medidas anunciadas pela gestão petista. Em janeiro, publicou nas redes o famoso vídeo para atacar um decreto que estabelecia regras para o uso do Pix, levantando suspeitas de que o meio de pagamento poderia ser taxado. A peça acumulou mais de 330 milhões de visualizações. No dia seguinte, Lindbergh, que tem 380 000 seguidores no Instagram, gravou um vídeo para rebater as declarações do deputado do PL — recorrendo, inclusive, à mesma estética visual do opositor. “Nikolas mente”, diz logo na abertura. A peça não chegou à marca de 1 milhão de visualizações. Diante da repercussão negativa, o Planalto acabou tendo de revogar o decreto. O embate virtual se repetiu em meio ao escândalo do INSS, quando o parlamentar do PL gravou um vídeo acusando o governo Lula de corrupção, e o líder petista fez outro para responsabilizar Bolsonaro.

AÇÕES - Lindbergh Farias: triunfos em batalhas importantes na Justiça
AÇÕES - Lindbergh Farias: triunfos em batalhas importantes na Justiça@lindberghfarias/Instagram

Na CPMI que vai apurar as fraudes contra os aposentados, prevista para o segundo semestre, os debates tendem a ser ainda mais calorosos. Nikolas avisou o seu partido de que quer ocupar uma das cadeiras, enquanto Lind­bergh escolhe a dedo os representantes da sua legenda. Reconhecendo que não há uma paridade de armas na disputa nas redes, Lindbergh ataca no campo jurídico. O deputado apresentou uma enxurrada de ações criminais contra o ex-presidente e seus aliados. Partiu do petista, por exemplo, o pedido de suspensão do passaporte de Eduardo Bolsonaro. Antes mesmo da resposta do Ministério Público, o filho Zero Três do ex-presidente pediu licença do mandato e buscou um autoexílio nos Estados Unidos. O petista ainda pediu que fosse instalada uma tornozeleira eletrônica no ex-presidente, alegando que ele poderia fugir do país — mas, ao menos por enquanto, os ministros descartam essa possibilidade. Também foi Lindbergh quem encabeçou um pedido para que a deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada no STF, fosse incluída na lista da Interpol após deixar o Brasil. Nikolas, por sua vez, contra-ataca nessa área com críticas ao Judiciário, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, a quem já chamou de “covarde”, “ditador” e “psicopata”.

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No chão do plenário, os embates entre o petista e o bolsonarista já geraram irritação no presidente da Câmara. Certo dia, Nikolas subiu à tribuna e, cercado de aliados que erguiam cartazes com os dizeres “perseguição política”, questionou a denúncia apresentada contra Jair Bolsonaro. “Golpista é o vagabundo, mentiroso, ladrão que é o Lula”, gritou. Lind­bergh correu em direção ao microfone. O deputado, porém, foi interrompido por gritos e vaias durante trinta minutos. “Podem gritar o que quiserem, mas o povo brasileiro vai ter conhecimento detalhado de toda essa trama sórdida, de todo esse atentado contra a democracia”, discursou. Em meio à balbúrdia, Motta baixou regras de convivência no plenário para tentar evitar que o vexame se repetisse. Entre um round e outro, a dupla é ovacionada em seus nichos. “O problema do Nikolas é que ele sempre dá um jeito de pegar uma meia-verdade e colocar uma mentira no meio”, disse Lindbergh a VEJA. Nikolas foi procurado para responder, mas, nesse caso, perdeu por WO.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950

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