Em meados de 2024, Isabel de La Caridad Navarro Hector, hoje com 44 anos, deixou o trabalho de especialista em RH em um hospital de Cuba, a mãe e um irmão e rumou para o Brasil em busca de uma vida melhor do que a que levava no país combalido por décadas de ditadura. Com dois filhos, um de 16 e outro de 24 anos, chegou a Curitiba, onde se estabeleceu, fez amigos e conseguiu emprego com carteira como ajudante de padaria em uma rede de supermercados. “Decidi vir por causa da situação política e social que nosso país está enfrentando. Já tinha ouvido falar muito bem de Curitiba, que é boa para morar, trabalhar e tem uma população muito acolhedora”, conta a imigrante, que tem como colegas de trabalho outras compatriotas com histórias semelhantes.
Isabel é um rosto entre tantos que vêm trocando a ilha caribenha pelo Brasil nos últimos anos. Em 2021, foram apenas 524 pedidos de refúgio, mas no ano passado esse número chegou a 22 288. Entre janeiro e abril deste ano, já são 12 638, marca que fez a onda cubana superar pela primeira vez a venezuelana. A maioria chegou pelas entradas ao norte, em Boa Vista, Pacaraima (RR) e Oiapoque (AP), mas o destino predileto foi a mesma Curitiba de Isabel: a capital do Paraná recebeu 738 refugiados cubanos este ano, mais que o dobro de São Paulo, o segundo lugar, com 325.
A escolha de Curitiba tem relação com a perspectiva econômica e as facilidades oferecidas por projetos locais. Imigrantes que chegam à rodoviária são entrevistados por programas da prefeitura e de empresas e recebem propostas de emprego. Além disso, a capital dispõe de uma ampla rede pública de saúde e educação. “Somos uma cidade que oferece uma boa qualidade de vida e com o custo menos elevado que o de outras capitais”, diz Amália Tortato, secretária de Desenvolvimento Humano de Curitiba.
Um dos motivos que provocaram a onda foi o aumento das restrições em outros países, em especial nos Estados Unidos de Donald Trump. Mas, inegavelmente, é a piora da vida na ilha caribenha que faz muita gente fazer as malas. Para muitos, a inflação galopante, a escassez de itens básicos e a falta de liberdade política chegaram a níveis insuportáveis. Abrigando quase 1 800 conterrâneos de Fidel como refugiados, Curitiba ensaia se tornar a nova “Cuba livre”.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950