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As mensagens subliminares por trás do filme ‘Extermínio: A Evolução’

O texto a seguir contém spoilers do filme Extermínio: A Evolução

Se o filme Extermínio, em 2002, ajudou a ressuscitar o gênero do terror de zumbis, o novo longa da saga, Extermínio: A Evolução, em cartaz nos cinemas, chegou para subverter as regras impostas até aqui pelo entretenimento com seres mortos-vivos, especialmente em séries de TV como The Walking Dead e The Last of Us. Logo, a produção dirigida por Danny Boyle e escrita por Alex Garland, dupla original do primeiro filme, pode incomodar alguns espectadores que serão surpreendidos pela estética diferentona (o longa foi filmado com iPhones) e por mensagens subliminares que mexem com medos ancestrais e ideias que ficaram estagnadas em um mundo que não evoluiu. Confira a seguir explicações e referências essenciais para entender a produção.  

Brexit e a política por trás de Extermínio: A Evolução

O vírus da raiva que iniciou o surto de contaminação se deu na Inglaterra – e por lá ficou. É o que sugere o filme e o diretor, que disse ter se inspirado no Brexit como uma forma de retratar um isolamento extremo do Reino Unido. Ao serem excluídas do resto do mundo, as Ilhas Britânicas se tornam um lugar atrasado, primitivo e sem comunicação com os demais países – esses, por sua vez, patrulham a costa inglesa com navios de guerra, impedindo que os habitantes deixem a região e espalhem o vírus por aí. Uma crítica mais explícita do filme é o amplo histórico belicoso da Grã-Bretanha: quando os protagonistas Spike (Alfie Williams) e seu pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), seguem para o continente infectado pela primeira vez, ao fundo ouve-se a voz do ator americano Taylor Holmes declamando o poema Boots, de Rudyard Kipling — o texto foi uma crítica do poeta ao ciclo de violência das guerras promovidas pelos britânicos. 

Alfie Williams, Jodie Comer e Ralph Fiennes em 'Extermínio: A Evolução' -
Alfie Williams, Jodie Comer e Ralph Fiennes em ‘Extermínio: A Evolução’ –//Divulgação

Zumbis ou apenas humanos muito nervosos? 

Ao subverter as regras que definem o básico do que é ser um zumbi, o filme deixa em aberto a definição para os seres famintos que vagam por aí mordendo outros. Com a capacidade de evoluir, ou involuir, ganhar peso, e até procriar, os humanos infectados se mostram mais animais ferozes, já que estão com um vírus de raiva manipulado em laboratório, do que mortos-vivos em constante decomposição. Ao eleger representantes masculinos grandes e musculosos como “alfas”, o roteiro alfineta a masculinidade tóxica, levando os humanos a suas versões mais primitivas. Essa também é a crítica por trás da relação de Spike e o pai – no rito de passagem dessa realidade, o garoto é tirado da proteção de uma comunidade em uma ilha isolada para matar zumbis no continente. 

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Ralph Fiennes em 'Extermínio: A Evolução' -
Ralph Fiennes em ‘Extermínio: A Evolução’ –//Divulgação

O médico louco – ou sensato — de Ralph Fiennes 

Parte essencial da trama, o médico Ian Kelson, interpretado por Ralph Fiennes, encontrou um meio de viver entre os infectados. Ele se banha de iodo para afastá-los – e mantém hábitos que também deixam longe as pessoas sem o vírus. Kelson costuma queimar os mortos e tirar seus ossos, com os quais cria esculturas enormes, numa espécie de instalação artística macabra. Ele repete o mantra: “memento mori”, termo em latim que serve como um lembrete de que todos nós vamos morrer. Diante do fim, filmes apocalípticos costumam mostrar a violência que explode em diversas pessoas ou o instinto de sobrevivência. Raramente surge alguém que simplesmente faz as pazes com a realidade – e com a morte que vive à espreita. 

Jack O'Connell (centro) e a trupe do fim do mundo em 'Extermínio: A Evolução' -
Jack O’Connell (centro) e sua estranha gangue do fim do mundo em ‘Extermínio: A Evolução’ –//Divulgação
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Entenda o final maluco de Extermínio: A Evolução

Com a morte da mãe, Spike se desvencilha da comunidade onde cresceu e decide seguir seu próprio caminho pelo continente. Encurralado por um grupo de zumbis, ele é salvo por Jimmy (Jack O’Connell) — personagem apresentado logo no começo do filme, como uma criança sobrevivente da infecção iniciada em 2002. Jimmy, porém, é uma figura no mínimo bizarra — assim como sua trupe: todos têm cabelos loiros platinados e usam roupas esportivas coloridas, além de joias. O visual pode não fazer muito sentido para os brasileiros, mas para os britânicos ele remete a uma ferida ainda aberta por lá: a gangue do fim do mundo se inspira no estilo do apresentador infantil da BBC Jimmy Savile, figura amada na região até sua morte, em 2011, aos 85 anos — logo depois, começaram a surgir diversas vítimas de assédio sexual, especialmente crianças.

No total, foram feitas 450 denúncias contra ele. Haviam ainda detalhes sórdidos, como o gosto do apresentador por necrofilia. Na ficção, como o vírus se espalhou em 2002, o apresentador teria mantido a aura de figura idolatrada, o que explica parte do apelo que ele ainda causa no Jimmy do filme. Mas ao usar o apresentador como inspiração, o roteirista afirma que se trata também de uma representação do olhar nostálgico deturpado daqueles que olham para o passado, como se naquela época a vida fosse melhore — porém, esse olhar espelha uma memória seletiva do que era ou parecia bom, esquecendo-se do que estava oculto. Uma sequência do filme já está marcada para janeiro de 2026, e o roteiro deve explorar o que acontece com Spike a partir do momento em que ele aceita se unir ao grupo de platinados. 

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