À medida que a expectativa de vida aumenta em todo o mundo, questões ligadas ao envelhecimento saudável se tornam cada vez mais relevantes. Com cerca de 290 mil novos casos de câncer de próstata estimados apenas nos Estados Unidos em 2023 e mais de 350 mil mortes no mundo, a doença tem sido debatida mais abertamente em diversos segmentos da sociedade.
O câncer que acomete o ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o maestro e pianista brasileiro João Carlos Martins evidencia que é preciso uma ampla discussão sobre o envelhecimento da população, a conscientização sobre a prevenção e a urgente disciplina dos homens para a realização de exames regulares com seus médicos urologistas, porque ainda há resistência por parte de muitos em procurar atendimento preventivo.
O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens. A doença é hoje uma das principais preocupações da medicina preventiva masculina. Embora a maioria dos tumores identificados sejam considerados indolentes — isto é, de crescimento lento e com baixo risco de mortalidade — o risco da doença aumenta significativamente com a idade. Homens com menos de 50 anos têm cerca de 5% de possibilidade de desenvolver câncer de próstata. Já entre aqueles com mais de 79 anos, essa chance pode ultrapassar 60%.
Esse aumento do risco com a idade não significa, porém, que a doença seja sempre fatal. Quando diagnosticado precocemente, o câncer de próstata tem uma taxa de sobrevivência específica impressionante: entre 97% e 99%. A chave está na detecção precoce por meio de exames de rotina, como o toque retal e o PSA (antígeno prostático específico), que permitem identificar alterações suspeitas antes que o tumor se torne agressivo ou se espalhe para outros órgãos.
Nos últimos anos, a medicina tem avançado rapidamente na personalização do cuidado. Além das cirurgias e da radioterapia convencionais, hoje já existem terapias-alvo, imunoterapia e técnicas inovadoras e minimamente invasivas.
Casos avançados e alerta à população masculina
O tratamento padrão para casos avançados é a terapia de privação androgênica (ADT), que bloqueia a ação da testosterona — hormônio que alimenta o crescimento do tumor. Essa abordagem costuma retardar a progressão da doença e aliviar os sintomas.
Um estudo recente com homens acima de 80 anos mostrou que, após cinco anos, a mortalidade por câncer foi de 36,9%, maior que a de outras causas (26,9%).
O problema é que muitos pacientes desenvolvem resistência ao tratamento hormonal. Nesses casos, o câncer evolui para uma forma mais agressiva e resistente, chamada mCRPC (câncer de próstata metastático resistente à castração), exigindo o uso de terapia de segunda linha e/ou quimioterápicos. Esses medicamentos podem prolongar a vida em cerca de dois anos.
Nos últimos anos, a medicina avançou muito no combate ao câncer de próstata. Uma das apostas mais promissoras são os anticorpos bioespecíficos, que conseguem ativar o sistema imunológico contra as células doentes.
Embora os resultados ainda dependam de diversos fatores, como heterogeneidade do tumor, microambiente tumoral, imunogenicidade dos anticorpos, efeitos colaterais, meia-vida no sangue, baixa taxa de resposta e resistência aos medicamentos. A expectativa é de que a imunoterapia avance nos próximos anos.
Estamos, portanto, diante de estratégias terapêuticas amplas e complexas, cujos resultados variam de acordo com o organismo, o estágio e a heterogeneidade da doença. Por isso, um monitoramento confiável e de alta resolução da eficácia do tratamento é hoje uma necessidade urgente.
Outro destaque é o papel da epigenética. Em uma parceria entre o Hospital Universitário da Universidade Positivo, no Brasil, e a Universidade Heinrich Heine, na Alemanha, foi desenvolvido o teste EpihTERT. Ele detecta uma assinatura específica de metilação do DNA que indica a presença de um tumor agressivo. Essa tecnologia permite ao médico acompanhar, em tempo real, a resposta ao tratamento e agir rapidamente caso a doença volte a progredir.
O diagnóstico de câncer de próstata em figuras públicas, Biden e o renomado João Carlos Martins, serve como um poderoso catalisador para um debate necessário. Esses casos destacam a urgência de discutirmos profundamente a doença, os avanços nos tratamentos e, sobretudo, o diagnóstico precoce, um pilar fundamental para a saúde.
Se a medicina contemporânea oferece um amplo espectro de possibilidades e avanços contínuos, envelhecer não precisa significar adoecer. Mas isso exige uma mudança de postura: os homens precisam priorizar os cuidados com a própria saúde e entender que prevenir é, sim e sempre, melhor do que remediar.
A realização regular de exames preventivos com o urologista, a partir da idade indicada (geralmente 50 anos, ou 45 para grupos de risco), é o passo mais importante para garantir uma longevidade saudável e enfrentar o câncer de próstata com mais possibilidade de sucesso.
*Marcelo Bendhack é uro-oncologista, presidente da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia e professor da Universidade Positivo, em Curitiba
*Com colaboração do Prof. Dr. Simeon Santourlidis